segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

DE QUEM É A FESTA?


Olá amigos
Desculpem-me a franqueza, mas eu não gosto do Natal, talvez até soe melhor se eu disser que não gosto da transformação ocorrida com o  Natal, o fato é que se eu pudesse sair no dia 20 de dezembro e só voltar no dia 5 de janeiro do outro ano, seria uma dádiva dos céus, de preferência para um lugar ensolarado, tranqüilo, com uma praia de areias bem brancas, pouca gente ao redor e um mar de coloração verde azulada, ah, e se não fosse pedir demais, com águas mornas e ondas amigáveis.
Claro que não conto com os natais da infância, onde ainda estamos fascinados pela presença do Papai Noel, mas mesmo nesta época, eu ficava muito triste quando ouvia uma música que começava assim:  Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel...
Sem saber de uma forma muito clara, instalava-se já na infância, a percepção da desigualdade aparente que permeia as coisas ao nosso redor, mas à frente retornarei para explicar porque usei o termo aparente.
Claro que não sou imune a transformação estética do mobiliário urbano, aos enfeites natalícios, as luzinhas multicoloridas que se fazem presentes em diversos lugares, aos presépios, as cantatas de natal, tudo é muito prazeroso de se ver, as pessoas tornam-se mais sociáveis e até chego a vislumbrar o que de fato um dia chegaremos a alcançar, nossa plenitude como seres fraternos.
Contudo, é uma época onde as diferenças se fazem mais sentidas, um consumismo exacerbado de um lado, e de outro carências do mais básico para uma sobrevivência digna, não quero que isto pareça demagogia barata de fim de ano, é simplesmente a constatação das observações que faço ao longo de muitos anos.
Alguém pode dizer que o Natal tem uma característica de solidariedade, algumas pessoas, não todas, acordam minimamente para as necessidades básicas do seu semelhante, mesmo que eu saiba que já é algo de positivo, me irrita saber que no dia seguinte esta preocupação com o bem estar alheio, vai estar relegada aos cantos, qual os restos das fartas ceias, que primam pelo excesso e conseqüente desperdício.
Aplaca-se a consciência, com uma cesta básica, uma adoção natalina de uma criança carente, uma caixinha de Natal para os prestadores de serviços básicos, e pronto.  Muito júbilo e pouco sentido.  Paz na terra aos homens de boa vontade.
Não quero soar muito ácido não, ainda mais numa época desta, onde tudo parece ser festa, mas vejo famílias que se digladiam por mesquinharias durante um ano inteiro, reunirem-se nesta época para se confraternizarem, sem entender o sentido de ser fraterno com,   pois  este é o sentido da palavra confraternizar.
Outro poderia argumentar que é melhor se ter um dia de paz do que nenhum, eu concordaria com tal afirmação, mas detesto hipocrisia, sentam-se à mesa, comem e, sobretudo bebem de forma excessiva, trocam presentes que serão ridicularizados depois, ou pelo valor do presente ou pela inadequação do  gosto de quem recebeu ao de quem deu, não vou nem falar de amigo oculto, já escutei cada barbaridade que é melhor me calar sobre o assunto.
Acabada a troca de presentes, come-se como se o mundo fosse de fato acabar, bebe-se em quantidades temerárias e ainda tem a balada depois, até isso já inventaram. Carnatal, Natal Fest,  vai vendo aí.
Se perguntar de quem é o suposto aniversário, sim suposto, até a data foi estabelecida pelo poder religioso dominante à época, vejam só a ironia, de acordo a uma festividade pagã, adoro esta palavra, pagã, tudo bem que teria de ser estabelecida uma data ou outra, mas voltando a vaca fria, se perguntarem de quem é o aniversário, é capaz de falarem que é do Papai Noel, aquele senhor de barbas brancas, com aquele vestuário europeu de neve, que entra pela chaminé, caramba me lembrei de um fato, eu ficava apavorado, lá em casa não tinha chaminé, aí adequaram, ele entrava pela janela mesmo, e eu como toda criança ficava tentando manter os olhos abertos para dar um flagra no Papai Noel, vítima de toda excitação, sempre era vencido pelo sono, e pela manhã o milagre já havia acontecido, ao menos em meu lar ele sempre compareceu. Sempre fui filho de Papai Noel, para o meu extremo alívio e tortura de outros tantos, que dele eram órfãos.
Minha aversão,  vejo hoje,  já vem insidiosamente de longa data, hoje percebo bem, mesmo na infância me sentia um pouco culpado por receber até o que não pedia, e meus amigos às vezes nada.
Entendo que nesta época do Natal a espiritualidade maior atue junto aos indivíduos com mais intensidade, na tentativa de  plantar uma semente em nossos corações tão individualizados, nossos sentimentos ficam mais aflorados, nossa sensibilidade fica mais intensificada, eu então que  já choro por nada e qualquer coisa, fico  intolerável.
Talvez, acabei de pensar isto agora, minha implicância com o Natal seja principalmente por ele me fazer perceber o quão pouco faço, sendo tão privilegiado, para minorar todas as carências que nesta época se fazem mais perceptíveis aos meus olhos.
Quem dera que esta visão continuasse aclarada pelo restante do ano, os habitantes das marquises, não estão lá apenas nesta época do ano, nos outros dias, muitos de nós atravessam para o outro lado da rua, na inútil tentativa de torná-los invisíveis, inexistentes.
Tenho sim boas lembranças do Natal, algumas delas espantosas e até bem recentes são inesquecíveis, mas deixa ficar deste jeito,  me lembro  claramente dos natais da minha infância, eram mágicos, ganhar presentes e toda aquela agitação. Quem nesta fase da vida não gostaria? Já adulto, casado, fui o Papai Noel dos meus filhos, tentando proporcionar a eles a magia que é tão necessária nesta fase, e que acabamos por perder depois, ao menos a maior parte de nós.
Agora me digam. Qual foi o seu maior espanto na infância, ou sua  maior decepção. Eu digo os meus.
Meu maior espanto quando criança foi saber como eu tinha chegado ao mundo, nas palavras esclarecedoras e inclementes de um colega mais velho e mais cruel.
Já a minha maior decepção,  foi saber que Papai Noel não existia, foi dose para engolir, quem já passou por isso sabe do que falo, parece que conspiraram para te fazer de bobo, é claro que não se trata disso, os pais tem a melhor das intenções, mas minha ojeriza deve ter começado ali, quando me falaram que Papai Noel, era nada mais nada menos do que o meu próprio pai, até me dói lembrar disto.
O Natal é de suma importância, pois marca o início da maioridade espiritual deste planetinha azul, que nos serve de escola, de hospital e também de cárcere, a história humana passou a ser demarcada pelo advento da presença de Jesus entre seus irmãos mais infantilizados espiritualmente.
Antes de Cristo, e depois de Cristo, este marco divisório faz todo sentido pra mim, pois sua chegada marca o final de um ciclo e o início de outro para toda humanidade terrestre, para me utilizar de um termo mais atual, Jesus veio dar aquele Up Grade na civilização humana, veio para trazer uma revolução nos costumes e na forma de nos relacionarmos com o Criador e principalmente na forma de nos relacionarmos uns com os outros,   de se ver no outro um irmão.
Onde o homem por ignorância havia criado a figura antropomórfica de Deus, dando Lhe uma feição humana, mas uma vez desvirtuando o sentido das palavras, somos sim, criados a imagem e semelhança Dele, não Ele a nossa semelhança, coisas da nossa,  ainda presente, infantilidade espiritual, mas já temos um caminho percorrido.
Onde havia um Deus, raivoso, genioso, vingativo, parcial, ou seja,  muito humano, trouxe-nos a figura de um Pai, assim Jesus O denominava, Pai, e que como um verdadeiro Pai, entendia a limitação momentânea de seus filhos em processo de aprendizado e amadurecimento.
A vinda deste irmão maior, mais experiente, infinitamente mais sábio,  nos deu a oportunidade de uma maior compreensão, de descobrirmos o poder de uma palavrinha curta, em quase todas as línguas, simples, mas de difícil e complexo entendimento,  execução e vivência,  qual seja,a palavra AMOR.
Ao longo deste trajeto da nossa história, após o advento Crístico, a humanidade vem aos tropeços ao longo dos dois últimos milênios, tentando por em prática a simplicidade de seus ensinamentos, e como tudo que é simples e verdadeiro, temos enorme dificuldade em interiorizar. Engatinhamos ainda na prática da caridade, da simplicidade e acima de tudo da fraternidade. Somos irmãos, todos nós, ou quase todos, temos uma noção minimamente básica desta realidade, temos uma só origem e um só destino.
Contudo em uma sala de aula, existem os que se esforçam para aprender a lição, assim como os que não prestam a mínima atenção no professor, ou pior ainda, aqueles que tentam atrapalhar as aulas, assim se processa o nosso aprendizado, uns um pouco à frente e outros mais atrasados, os que vão à frente um dia conscientizam-se dos que estão à retaguarda e aprendem a felicidade de amparar os que necessitam de ajuda.
Por isso falei que as desigualdades são aparentes,  são apenas o resultado prático, visível,  de nosso esforço de aprendizado, somos o resultado de nossas escolhas,  assim como quem não dá a devida importância ao professor repete de ano, fica de dependência ou recuperação, na escola universal  processa-se o mesmo, portanto o que se vê muitas vezes como uma incompreensiva injustiça dos céus, trata-se apenas de um processo de aprendizado, onde cada um colhe o fruto do seu esforço, e é confrontado com o resultado de suas tomadas de decisão, para que este aprendizado possa se processar, de forma contínua e ininterrupta.
Alguns seguem um pouco à frente outros ainda se arrastam pelo caminho, mas a ajuda nunca está muito longe, porém nada vem sem mérito, é necessário o esforço consciente de melhoria do indivíduo.
Gostaria muito que eu pudesse me lembrar no dia 25 de dezembro, da importância real desta data, que hoje se encontra soterrada pela avalanche de consumo em que foi o Natal transformado.
Um stress louco, gente gastando o que não pode,  levada por uma consciência de culpa, como se algo material fosse suprir as carências da alma, ah, esquecendo que logo depois da farra, vem as matrículas do colégio, IPTU, IPVA e tantas outras letrinhas que nosso honrado governo nos impõe, por isso o nome IMPOSTO, aliás, mais certo do que a morte só os impostos.
Que este ensaio anual de solidariedade, que acontece no mês de dezembro,  encontre eco durante o restante do ano, que esta euforia seja transformada em ação produtiva, no sentido de minorar as carências de nossos colegas de turma, que os que estejam um pouco à frente, tornem-se o amparo de quem vem mais atrás. A vida não é uma corrida de São Silvestre, quem chega em primeiro lugar ressente-se da solidão da chegada, e entende finalmente a  necessidade de retomar o caminho e reerguer os que se encontram em dificuldade de caminhar.
Sem demagogias, desta noção de Natal, eu sou partidário, faz mais sentido com a importância da qual se reveste o aniversariante, que de nós apenas requer atenção a aula e respeito, nunca temor, ao professor, lição mais simples de se entender não existe.
Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao seu próximo como a você mesmo.
Não fazer ao outro, o que não quiser que o outro te faça.
Simples não?  No entanto mais de dois milênios se passaram e não conseguimos agir segundo o que nos foi ensinado com tanta simplicidade.
Meu sincero desejo neste Natal, é que possamos ser alunos mais aplicados, mais atentos aos deveres de casa, mais respeitosos com o professor, quem sabe assim agindo, não nos qualifiquemos ao menos para sermos monitores de classe.
Um grande abraço à todos, com meus sinceros votos de um Feliz Natal
Feliz aniversário para você, irmão maior.
Que Deus nosso pai de infinita bondade, nos ampare a todos hoje e sempre.

Ricardo M


segunda-feira, 26 de novembro de 2012


                                                      ENCONTRO MARCADO

Durante o meu sono, você vem falar comigo
Procura entre os meus braços seu antigo abrigo
Encostando sua cabeça bem de encontro ao meu peito
Confesso que, à principio, eu até fico sem jeito
Mas logo até parece que você jamais um dia me deixou
Lembro a insegurança e a incerteza do começo
Recordo sorrindo nosso primeiro tropeço
A impressão na minha boca que do seu beijo ficou
Mas logo depois em seguida,  tudo se transformou
Revejo os nossos primeiros gestos de ternura
E sinto o subir da temperatura, nos momentos de desejo.
Entrelaço meus dedos suavemente em seus cabelos tão sedosos
Meus olhos buscam os seus, e os encontram lacrimosos
Dizendo-me já estar na hora da partida
E assim mais uma vez você invade a minha vida
Reabrindo a ferida encurada, que sangra novamente insidiosa 
Fala docemente de uma dor de saudade que nada no mundo conforta
Mas vai andando, passo a passo,  hesitante,  em direção a porta, acenando em despedida
Deixa-me ali parado, sem conseguir entender a razão deste encontro inesperado
Abro meus olhos lentamente, e você já não está mais ao meu lado
Não sei se era de fato um sonho, ou se eu só estava a sonhar acordado
Não será mais nesta vida, nós bem sabemos.
Mas a verdade é que já  temos, o nosso encontro marcado
Você também sabe disso, somente adiamos o compromisso
Mas o que está nas estrelas escrito, jamais poderá ser por nós  apagado
Durante o dia você me evita, mas basta a noite chegar, e eu cair no sono
Pra receber sua visita e acabar o abandono
Vem toda meiga sorrindo, de um jeito dissimulado
Com a mesma cara lambida, e ar de cachorro sem dono
Diz pra eu esquecer  a nossa briga, que sou o homem da sua vida, o seu maior namorado
E me chama de um jeito só seu, mas isto eu não ouso dizer, pois seria indelicado
Melhor  é  eu esquecer de tudo e deixar isto de lado
Não ia quebrar a rima, mas certamente iria ficar muito complicado.

L Ricardo Mendonça


Guardei esta por um longo tempo, cheguei a pensar que a havia perdido e hoje remexendo papéis antigos tornei a reencontrá-la, meu primeiro IMPULSO foi rasgá-la, mas pensando bem, é tão bonitinha e singela na sua despretensão que revi minha decisão e resolvi publicá-la.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ESTE CARA SOU EU. A QUEM INTERESSAR POSSA


Olá amigos.
E a quem interessar possa.

Pois é, as Redes Sociais vieram promover uma revolução na forma de interação humana, claro que nem todos estão na Rede, ou possuem perfil no Face Book, para ficar no principal, muitos nem sabem o que é um endereço digital, o popular Email.
Fiz este preâmbulo para dar uma respirada,  acalmar e ordenar o pensamento, entendemos a realidade através das palavras, estas tentam dar forma as coisas, e aí começa o problema, o ruído de comunicação, nem sempre o que tento exprimir através das palavras, que são um pálido reflexo das IDÉIAS que as geraram, são compreendidas conforme o pensamento original, uma hora por falta de habilidade de quem as exprime, e em outras pela total incompetência do ouvinte em entendê-las fidedignamente.
Um amigo um dia me deu um sábio conselho,  Gilberto Teixeira Silva, é o seu nome, conselho que como sempre fazemos não foi seguido e veio a dar no que deu,  me falou com muita propriedade que, as mensagens, emails, torpedos e similares só devem ser enviados em um relacionamento quando tudo está bem, quando não está legal, serão entendidas com uma entonação contaminada pelo processo de desgaste.
É verdade, vou usar um exemplo,  uma simples frase como: Vem aqui agora. Se for ouvida como eu tentei expressar, seria ouvida como um carinho, um pedido de preenchimento de ausência, mas pode soar como uma ordem aos ouvidos alheios, e ser de imediato repelida e respondida mal criadamente, e aí a briga começa...
Eu estou fazendo rodeios para entrar no que me incomoda, mas vamos lá, tenho perfil no Face Book  há algum tempo, meu perfil é totalmente aberto pra quem quiser se esmiuçar, pois basicamente é nisso que isto tudo consiste, uma enorme rede de bisbilhotagem, falo isso sem nenhuma crítica, pois eu mesmo me tornei um aficionado desta  ferramenta de convívio social.
Pena que o nome Windows já estava registrado, seria muito mais apropriado a meu ver, JANELAS, vemos a vida dos outros através destas janelas que nos são livremente abertas e vamos abrindo as nossas próprias, para que eles  também possam também dar uma espiadinha.
Por isso não faço a mínima restrição de acesso ao meu perfil, e qualquer um que pedir para ser adicionado, seja quem for, será imediatamente aceito, sei que isto contraria algumas regras de segurança e facilita a vida de gente mal intencionada, mas é uma escolha consciente, o que eu publico, é de domínio público e pronto.
Adoro ver a reação das pessoas a determinadas brincadeiras, se coloco algo totalmente inconsequente,  uma piada, ou uma gracinha qualquer, uma foto irreverente, é uma enxurrada de comentários, se publico alguma coisa que acho ser interessante, que vá acrescentar algo para as pessoas, às vezes fico frustrado com a reação ou mesmo a total ausência  dela, pois muitas vezes passa em branco.
A necessidade de sermos ouvidos ou notados e tão flagrante, que chega a ser comovente em certos casos.
A fiscalização à distância dos casais, tem gente que para evitar problema, torna-se um só no perfil, abre-se mão até da própria individualidade em certos casos, em outros raros, sabemos que o que levou a ser feito desta forma foi um amor verdadeiro, é,  isto existe, podem ter certeza.
Namoro para resistir ao Face e similares, tem de ter uma blindagem enorme, o meu primeiro artigo do meu blog me gerou o primeiro problema, uma amiga fez um comentário elogioso e rendeu problema, expliquei que era um espaço público e que se eu não quisesse receber comentários guardaria meus pensamentos para mim mesmo, a finalidade como percebi depois era justamente o contrário, era para ser sobretudo uma ferramenta de diálogo aberto, a exposição da minha visão de mundo e o contra ponto da visão de quem me dá a honra de perder seu tempo lendo meus pensamentos imperfeitos, meus IMPULSOS.
No começo, me iludi dizendo que era apenas uma forma de terapia, o que de fato é, mas  que não me importaria se ninguém olhasse o que havia escrito, besteira, todo mundo precisa do olhar do outro para ser definido, não dizendo com isto que a opinião alheia é o que vai me moldar, só gente muito sem perspectiva age desta forma, infelizmente são muitos que assim procedem,  uma enorme parte ainda vive para dar satisfação ao que o outro pensa, não é disto que falo. E acima de tudo não é de forma alguma o que estou fazendo neste texto, não sou de dar satisfação aos outros, mas resolvi matar a curiosidade de muitos, quanto a quem de fato sou e como de fato penso.
Vejo as mensagens subliminares que são enviadas, declarações nítidas de carência, auto-indulgência, insegurança e toda gama de fraquezas humanas tão comuns ao nosso cotidiano, inveja, ciúme, posse, orgulho, raiva, ódio, mas também afeto, amizade, carinho, amor, caridade, bondade enfim, toda vasta gama de sentimentos que nos move.
Morro de rir quando vejo um amigo que está morto pelo término de relação postar uma foto cercado de meninas em uma destas baladas da vida, com o sorriso mais falso de felicidade do mundo, pois ele sabe, da mesma forma que ele próprio faz, que ela vai entrar no seu perfil e morrer de raiva. Vou abrir aqui um parênteses, não olho nem por reza brava perfil de ex mulher, ex namorada, ex amiga, ex amante o escambau, apesar de ser tão humano ou mais ainda que a grande maior parte, ajo nestes casos como ajo em relação as drogas, sei que não vai me trazer nada de bom, assim apesar de ser extremamente tentador  passo bem, mas bem longe mesmo. O nome disto pra mim é curiosidade mórbida.
Não preciso de mais dores do que as que já me foram causadas, ou das quais eu tenha sido a própria causa, no meu entender, TODAS são minha responsabilidade,  não tenho viés masoquista, e apesar de ter enorme curiosidade pela vida, me abstenho a duras penas de eu próprio me causar ou procurar desgostos, chega os que já me atingem sem que eu possa evitá-los, portanto meninas fiquem tranquilas  desejo plena felicidade mas sem a mínima curiosidade, não é mais da minha conta.
Vejo as enormes discussões de ponto de vista, como formas saudáveis de interação, mas vejo também como as pessoas estão muito bem preparadas para falar e indisponíveis para ouvir, leio tudo que percebo ser positivo e sempre deixo um comentário que julgo ser pertinente, aos amigos, digo àqueles de fato amigos, deixo sempre um comentário impertinente, que o diga meu querido amigo Milton Nogueira, o popular Coelhão ou Gato do Mato,  mas nestes casos é o enorme amor que por eles sinto, travestido em molecagem, este sou eu.
O que me levou a tudo isto, foi constatar mais uma vez como as pessoas preocupam-se comigo, leiam com entonação de ironia, é esta a ideia, claro que tenho inúmeras pessoas, graças a Deus,  que se preocupam comigo de forma verdadeira, e o seu amparo muitas vezes foi o único sustentáculo na queda, o sustentáculo Divino é incontestável, mas estou aqui falando de relações humanas, das quais o Face Book hoje a meu ver é o exemplo mais significativo da sua superficialidade e fragilidade.
Vamos abolir as alianças, a maior prova de amor que alguém faz hoje, é colocar:  Está em relacionamento SÉRIO com fulana ou fulano no perfil.
Uma alteração de status no final das contas é o que me levou a escrever isto tudo, a falta do que fazer de determinadas pessoas que pensam que a vida cabe dentro de uma página de um site de relacionamento, se bem que para algumas delas é a única forma de relacionamento e de vida  que  possuem, lamentavelmente,  ( notem bem a carga de desprezo que esta afirmação comporta ), não falo das pessoas que passam pela prova da solidão, sou a elas solidário, pois como quase todos, já passei por episódios de estranhamento com a vida, e para meu total espanto, apesar de visivelmente ser uma pessoa de convívio social extremado, a cada dia me vejo mais submerso no meu universo íntimo.
Fui abordado por um amigo acompanhado de uma menina muito bonita, jovem, como este amigo, com a seguinte pérola. Fiquei sabendo que você mudou de STATUS no face, e está amiga ta muito afim de te conhecer. Se tem uma qualidade d alma que prezo é ter educação com todos que de mim se aproximem, mas devo confessar que nunca antes em todos os meus já bastantes anos de vida me deu tanta vontade de ter a falta de educação que vejo em certas pessoas e que as vezes até invejo, pela capacidade que tem de falar o que eu não consigo.
Conhecer pessoas novas é uma enorme satisfação para uma alma tão gregária quanto a minha, sem modéstia alguma sei ser uma pessoa muito agradável e inteligente em lidar com meus semelhantes e, sobretudo com meus amigos, mas a frase de abordagem teve um que de incredulidade, que conseguiu até me causar uma certa paralisia emocional.
Dentro do contexto, fiz o que a educação requer, mas parecia que eu havia tido um desdobramento, minha boca expressava-se por si mesmo, enquanto o meu cérebro já começava a pensar em tudo isto que estou a expelir, não tem outra palavra para ser usada.
Já publiquei notas ácidas, revestidas de raiva incomum, tento sempre postar coisas que levem algo de positivo para os outros ou que no mínimo pela sua irreverência calculada provoque risos e tumulto. Como exemplo sito uma publicação que adoro: Sou um homem que toda mulher disputa. Diz puta que pariu, que homem mais feio.  Algumas amigas, e também amigos, postaram comentários no mesmo tom de irreverência, mas tem gente que achou que eu estava fazendo autopromoção...  Cada um julga conforme as suas próprias medidas, é tudo o que tenho à dizer.
Já abri anteriormente aqui meu coração, sou simplesmente humano como todos, quando tenho algo de mais interno uso as páginas do meu blog, apesar de compartilhar normalmente a página no Face, publico minhas poesias, meus textos, deixo comentários, mas sempre sofri com uma curiosidade além do normal, sobre o que faço, mas principalmente sobre o que dizem que eu faço, normalmente entra em ouvido e sai pelo outro, normalmente, mas normalidade tem limite assim como a minha insipiente paciência, portanto, vou fazer uma coisa que já deveria ter feito a muito tempo.

                              PERFIL IMPULSO   ( Quem sabe isto não rende uma rede social )

Luiz Ricardo Mendonça Silva
03 04 1960  52 anos Nascido em Volta Redonda, Separado Judicialmente,  Cirurgião Dentista
Não, eu não penso que sou um jovem, sou jovial, mas percebo e sobre tudo sinto todos os anos já experienciados,  sou heterossexual e defendo a liberdade de escolha de cada um, do direito  da pessoa exercer a sua opção sem ser rotulada, quando disse que sou hétero, foi acima de tudo para significar que gosto de MULHER, não, não me importa a idade que tenham, desde que isto esteja dentro dos limites da adequação necessária, não me relaciono somente com mulheres mais jovens, tem sido contingência dos fatos, não uma escolha pré definida, procuro por valores, não por faixa etária, sim sinto orgulho que ainda possa ter algo que uma pessoa mais nova possa julgar ser interessante, meu ego funciona normalmente, sem que estes relacionamentos sejam vistos como troféus a serem expostos, sim, todas sabem nos mínimos detalhes quem fui, quem de fato sou e no que quero me transformar, mas acima de tudo são bem informadas quanto ao que pensam que eu sou, não, não tenho dinheiro, trabalho e luto com muita dificuldade para arcar com as minhas obrigações, se souberem de um emprego que tenha um salário digno, me avisem,pois estou precisando, não não sou convencido, não confundam a personagem com o ser real, e mesmo a personagem e freqüentemente desmentida pelo próprio autor,  consigo rir muito de mim mesmo, não sou e nem nunca fui meu tipo de homem, mas agradeço honestamente quando de mim discordam, sim até tenho me achado ultimamente uma pessoa charmosa, mas isto é bem recente, não,  não é fruto dos últimos relacionamentos, questão de auto percepção, também aceito as opiniões em contrário, mas peço que não a façam na minha frente para não abalar esta mais nova percepção de mim mesmo rsrsrrs, não, não sou vaidoso na acepção da palavra, tomo banho, tento me trajar de forma adequada aos lugares que hoje frequento, ah e passo perfume,  sou uma assombração que sabe para quem parece, com isto querendo dizer que não me atiro em cima de ninguém, não tomo liberdade com quem não me concede, sim sou galanteador no melhor sentido da palavra, adoro elogiar, nunca falto com o respeito devido, não, não sou nenhum conquistador barato, pois intimamente sou uma pessoa tímida, podem rir a vontade, sou uma pessoa tímida, não tiro ninguém para dançar que eu já não conheça ou que não tenha sido apresentado, mas danço com qualquer uma que me solicitar, jovem, madura, de vez, negra, branca, cor de rosa, verde, sim gosto muito de cantar e acho que até canto bem sim, mas não sou artista, sou cantador, faço minhas poesias tortas, algumas que gosto muito, outras nem tanto, ah, se forem tristes não quer dizer que eu assim esteja, o contrário também é válido, sou espírita, apesar de ser um espírito de porco, faço palestras espíritas em diversos centros de nossa cidade sem com isto ter os méritos necessários que deveria ter para exercer tal função, o que me move é a boa vontade e a necessidade de produzir positividade, sem em nenhum momento deixar bem claro à todos das minhas inúmeras fragilidades e deficiências morais, estou em aprendizado, portanto, não tomem minha religião por quem sou, sim, estou sem um RELACIONAMENTO SÉRIO no face e na minha vida, mas não estou disponível, sim sou plenamente capaz de encontrar companhia adequada, muito mais capaz do que a maior parte das pessoas que conheço e do que realmente seria necessário, diga-se de passagem, não, não estou sendo convencido, estou apenas esclarecendo fatos, sim me julgo uma pessoa muitíssimo interessante abaixo da superfície onde tentam me situar, sou muito mais intenso, sim sou uma ótima companhia, um ótimo amigo e ouvinte de quem  necessita de quem escute, sim, sim, sim e dezenas de sim eu falo demais e adoro que as pessoas me escutem, adoro sobretudo fazê-las rir, sim tenho uma alma palhaça, mas só a alma, não, não sou apaixonado pela Bárbara ( Desculpe-me meu amor, mas a questão ficou recorrente ) ela é uma amiga a quem muito respeito, apenas isto, não, não estou infeliz, ninguém é responsável pela minha felicidade, aprendi isto a custo de muito choro, mas vejo que valeu a pena o aprendizado, sim, tenho enorme carinho e respeito por quem cruzou a minha vida, sim, tenho inúmeras lembranças e nenhuma saudade, o melhor está à frente, estou no aguardo do que está por vir, sim eu sou humano, sangro e sinto dor, principalmente quando me julgam sem terem a mínima noção de quem sou, sim são todos bem vindos até que não se façam, se é que me entendem, se não entenderem eu faço um desenho. Como diz o meu amigo Roberto Carlos... Este cara sou eu.

Bem, mais explícito do que isto acho impossível, mas se deixei algum tópico de fora tenham a nobreza de me perguntar antes de proferirem suas verdades, tentem me conhecer, tenho a imodesta certeza que vão gostar de mim, tudo bem, alguns não vão não, mas faz parte.
Acima de tudo meus amigos, tentem publicar coisas que acrescentem, que sejam positivas, que minorem as nossas dores e as dores alheias que em tudo são semelhantes as nossas.
Peço sinceras desculpas, mas ou fazia isto ou na próxima apresentação eu ia explodir, ah, para todos os efeitos estou em um relacionamento seriíssimo comigo mesmo, quando terminar eu aviso, podem deixar vocês vão ser os primeiros a saber que eu não me aguentei.
Para finalizar, tomem conta das suas vidas ( leiam isto com entonação branda ), a minha é interessantíssima, mas é a minha, deixem-me vivê-la em paz, para atrapalhar, fiquem certos, eu mesmo me basto, tenho feito um ótimo trabalho, fiquem tranquilos, ninguém faria melhor.

Ricardo M

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CICATRIZES FLORES E LIBERDADE


Olá amigos

Pela primeira vez desde que comecei a aventura de publicar estes pensamentos imperfeitos, não sei de fato por onde começar,  tenho tanta coisa me rodeando os labirintos cerebrais, que ou sai algo surpreendente até para mim mesmo, ou nada que  faça  o menor sentido, portanto vamos lá ver no que isto vai dar.
Há algumas semanas atrás estive em Penedo, colônia finlandesa no sul fluminense, lugar bucólico de uma magia única, um daqueles lugares que nos faz sentir fora do mundo, por isso gosto tanto de lá, sempre me proporciona uma fuga do cotidiano.
Estava sentado em uma mesa com uma...  Amiga,  deve ser esta a nominação para ser usada agora, quando de nossa mesa aproximou-se uma senhora vestida de uma forma, diria pitoresca, dizendo-se  poetisa, que através da venda de seus textos ajudava pessoas carentes.
Vendia cada um de seus textos pela quantia de um real, isto mesmo um real, apesar de internamente já estar caindo na armadilha do pré julgamento  é difícil não ser solidário por um real, portanto comprei dois textos da referida poetisa, a quem quando perguntei o seu nome referiu-se a si própria, como  ¨A dona que ajudava os pobres¨, pois como me disse,  o seu nome não era importante, devo confessar que a afirmação me gerou um enorme desconforto e me pré dispôs contra ela,  pois como diz Emmanuel:  A humildade é uma virtude tão volátil, que quando pensamos tê-la, já a perdemos.
Deixando de lado meus julgamentos, oriundos da minha própria inferioridade espiritual, ela seguiu seu caminho e eu então me dispus a conceder a dádiva do meu tempo e da minha atenção para a leitura dos textos que havia dela comprado, contaminado pela empáfia que lamentavelmente algumas vezes ainda me atinge, julgando que iria encontrar baboseiras sem sentido.
Deus sempre escreve certo por linhas mais certas ainda, não eram poesias, na acepção do termo, mas eram textos curtos de uma beleza poética, de uma lógica irrefutável e de uma inteligência, que me atingiram fundo a sensibilidade, me trazendo lágrimas aos olhos, uma grande parte delas por extrema vergonha em relação aos julgamentos pré concebidos que tanto luto por não fazer, e que por avaliar apenas o exterior, havia acabado de mais uma vez a eles sucumbir, diga-se de passagem, que ela havia nos falado ser engenheira nuclear, e que havia abandonado tudo para ajudar aos pobres. Eu levei aquilo em conta da soberba.
Vou tentar mudar o assunto para mais à frente nele retornar juntando as pontas, tomara que possa fazer sentido.
Liberdade, eu quero te conhecer. Uma frase curta, afirmativa, escrita como epitáfio para o fim de um relacionamento. Esta pequena frase me deu muito no que pensar.
O que é ser livre?  Muita gente com melhores qualificações intelectuais do que eu, já se debruçou sobre esta questão.
O conceito de liberdade, assim como outros, tais como o de felicidade, é enormemente subjetivo. O que é ser livre para você? É não ter de prestar conta de seus atos? Não ter de dar satisfação a ninguém? Como se isto fosse possível. Não depender de ninguém? Outra impossibilidade. Poder entrar e sair a hora que bem te aprouver? Torno a questionar. O que é ser livre?
É claro que entendo a afirmação pelo o que ela tem de mais simples, poder experimentar coisas que nos foram vedadas é certamente uma forma de liberdade, principalmente para quem foi tolhido, mas estes conceitos são ilusórios.
Quem pensa que liberdade é fazer o que quer, como se isto fosse viável, confunde liberdade com egocentrismo, já me senti diversas vezes prisioneiro de mim mesmo e dos meus próprios sentimentos, como já me senti plenamente liberto ao lado de outra pessoa.
Liberdade, assim como esta tão propalada felicidade, são estados da alma, conceitos concretos que vivenciamos de forma abstrata, estão diretamente relacionados à escala de valores individuais, tem o tamanho do universo íntimo que cada um trás em si mesmo.
O que eu não conheço, para mim não existe, portanto o mundo tem para cada um a dimensão do seu conhecimento. Neste contexto sempre falei que temos de estar com nossas mentes abertas para viver o novo, tento viver a minha vida com isenção de intenções, como confessei linhas acima, às vezes falho vergonhosamente no intento, mas sei que isto também faz parte do meu processo de crescimento, enquanto espírito em processo contínuo de aprendizagem.
Assim como aprendemos a andar em passos vacilantes, aquele bamboleio que tanto nos fascina nas crianças e que mata os pais de preocupação pela contingência dos tombos, vamos aprendendo a caminhar através dos tropeços da jornada, caímos esfolando o corpo físico, erramos dilacerando os tecidos finos da alma.
Pronto aqui faço a junção das idéias que tanto tem me perturbado durante estes dias, um dos textos da minha amiga dos pobres, leiam isto sem ironia, é assim que ela quer ser chamada, e tem todo o direito de ser, por mais inadequado que eu possa querer julgar a denominação, ela ganhou o meu respeito pela profundidade dos conceitos, que com enorme simplicidade expôs.
Retornando, um de seus textos falava sobre feridas, um tema muito querido aos meus textos, sempre falo sobre cicatrizes, mas ainda não havia entendido a sua utilidade plenamente.
Sinceramente não pensei premeditadamente em fazer o que vou fazer agora, mas como um tributo de reconhecimento, e mais do que tudo, como um pedido sincero de desculpas pela avaliação preconceituosa que dela fiz,  vou aqui reproduzir literalmente um de seus textos, do outro farei citações, sempre com os devidos créditos. Prestem atenção.

                                                                 FERIDAS

¨ O amor e a sabedoria universal fazem par constante. Quando o primeiro é surpreendido com um fracasso, o outro estende seus braços para sustentar o desconhecido, a queda.
Por mais que possamos sentir o punhal cravado em nosso peito, também devemos saber que o sangue que escorre pela nossa alma, será o biombo do recomeço. Observemos uma ferida.
A casquinha externa é feia, reproduz o horror da lembrança da dor, no entanto, abaixo daquela casca, às vezes horrenda, a natureza tece magicamente o milagre da reconstrução.
São fios valiosos entregues a mãos preciosas. Talvez o horror daquela casca durante este trabalho, seja um sinal de aviso para nos afastarmos cada vez mais, deste tipo de armadilha.
 É como se houvesse um letreiro avisando do perigo. Um dia a obra estará acabada, e a casca feia cairá por si só, mostrando a você a nova obra pronta.
Se por acaso restar uma cicatriz, não se aflija. Deus decidiu colocar-lhe sempre em estado de vigília. Para que isto não lhe aconteça nunca mais. ¨

                                                      A amiga dos pobres

Sinceramente não sei se fico mais emocionado ou envergonhado, mas espero ter me redimido da minha falta de caridade para com ela, tomara que isto tenha se tornado uma cicatriz, eu agora entendo a  finalidade delas.
Olhamos nossas cicatrizes normalmente com horror, tenho algumas até interessantes, que já deram motivo para muita história e conseqüentemente para muita mentira também,  no meu  queixo a lembrança de um tombo de moto, na clavícula outra resultante de uma queda por um golpe de judô, na cabeça outra oriunda de uma pedrada, e diversas minúsculas que o tempo apagou da memória a origem, portanto insignificantes.
As cicatrizes corpóreas já nos acarretam pesadelos,  em virtude da lembrança dos traumas nos quais elas se originaram, agora o que dizer das que permanecem ocultas a visão alheia,  mas que são claras aos nossos olhos espirituais e insistem com enorme freqüência em se fazerem visíveis, vou mais além, insistem com enorme freqüência em reabrirem-se, voltando a causar dores indescritíveis pela revisitação dos fatos dos quais elas são as sequelas.
Sei que depois disto, o que eu normalmente repudiava e escondia de mim mesmo, tornou-se mais fácil de entender e de aceitar, não chego ao ponto de me orgulhar delas, mas também não as repudio mais, agora são para mim os avisos de Deus, nos quais passarei a dar mais atenção.
Mas nem só de cicatrizes vive este texto, também existem as flores.
Existem flores que  não  são para serem colhidas, mas diante da sua suavidade e de sua beleza o instinto de posse, ou melhor dizendo, nosso ego prevalece. Eu quero, eu consigo.
Segundo a minha amiga: ¨Muitas vezes é melhor vê-la sempre sorrindo lá no jardim, do que arrancá-la pelo simples fato de querê-la só para si.  ( Que beleza de conceito )
Ainda segundo suas sábias palavras:  ¨ O encontro do nosso eu, com a nossa essência mais pura, é como um fenômeno da natureza que se dá poucas vezes dentro da nossa existência, é preciso que nossa sintonia seja marcada pelo UNÍSSONO ( grifo meu ) dos nossos corações, porque senão, não há razão para ir ao jardim colher a rosa. ¨
É, acho que agora o meu intento foi logrado, no meio deste samba do sambista doido as coisas, ao menos para mim parecem ter se encaixado.
Algumas das minhas mais recentes e doloridas cicatrizes foram causadas por colher flores que eu deveria apenas ter deixado vicejando no jardim, contudo como realmente saber se aquela não é a flor a ser colhida? Como diz a propaganda do Canal Futura, não são as respostas que movem o mundo, e sim as perguntas.
Aprender a contemplar à distância as flores nunca foi um traço de caráter que eu pudesse orgulhar de possuir, me consolo dizendo que são poucos que possuem a sabedoria da contemplação em detrimento da colheita gananciosa, orientada apenas pelo falso sentido da posse.
Acaba que no final a flor se despetala e sobra,  apenas a haste com os espinhos para serem mostrados, depois ainda reclamamos das mãos feridas.
Vá conhecer a sua liberdade, vá sim, sem medo ou angústias, antes que a flor feneça, mas fica um aviso, a ilusão da liberdade é um dos tóxicos mais poderosos que eu próprio conheço, causador de traumas e de cicatrizes de difícil reparação, pela falta de compreensão do que seja LIBERDADE.
Pela ausência deste entendimento, nos tornamos intolerantes para com a liberdade dos outros, nos isolamos através da construção de muros de proteção que longe de cumprir esta função, acabam por nos segregar entrando em confronto direto com aquele outro conceito, o da tal felicidade, mas aí  eu vou precisar de procurar auxilio com a minha amiga dos pobres, com quem hoje compartilho a autoria intelectual do texto, se é que ele tem alguma intelectualidade, mas aí já é falsa modéstia, o que também é outro nome para o orgulho, danado de aprendizado difícil!
Fiquem com Deus, que o Divino Semeador, possa orientar nossa colheita e sempre nos lembrar que o limite da nossa liberdade,  sempre termina onde começa a do próximo, mas vai reconhecer estes limites.
Um grande abraço à todos

Ricardo M


Tenho uma poesia antiga que relutei antes em publicar, pois as vezes o contexto é impróprio, ou pode ser mal compreendido, mas francamente, entendam da forma que quiserem, pois é assim que sempre o fazem. Ela foi inspirada em uma música do Willie Nelson, um cantor country americano, que tem por título: To all the girls I ve loved before. Á Todas garotas que amei.


                                                              ESTRADA

Aprendi a não chorar por alguém que não me quer.
Deixo ao destino a escolha do caminho que vier.
Vou levando a minha vida sem qualquer preocupação.
Descobri que a viagem é bela, mas de curta duração.
Vou seguindo a caminhada sem saber onde vai dar.
Mas isto também não me importa, vou por estas vias tortas, sem ter hora pra chegar.
Conto os passos ao caminhar, sem ter rumo ou direção.
Chego a perder a noção do quanto que eu já andei,
Por tantas coisas passei, que chego até duvidar.
Senti o amargor e o desgosto do pranto a molhar meu rosto.
De viver em abandono, feito cachorro sem dono.
Sem eira nem beira ou lugar, que eu pudesse descansar.
O meu corpo dolorido e a alma em exaustão.
Mas foi curta a solidão, pois sempre tive coração que quisesse me abrigar.
Durante esta caminhada, foram muitos os amores.
Se tive alguns dissabores, a ninguém posso culpar.
Seguiram outros rumos na estrada, de alguns não ficou quase nada.
De outros... Me recuso a lembrar.
Mas de todos restou um traço, que nem o tempo e o espaço, vai conseguir apagar.
Que possam ser muito felizes, somos todos aprendizes.
Com muita estrada à rodar.
A todas o meu afeto, cada um com seu trajeto, o destino é um só lugar.
E como é uma só a estrada, às vezes em meio a jornada, a gente volta a se esbarrar.
Fiquem todas vocês com Deus, deixo aqui o meu adeus ou quem sabe um até lá.

Ricardo M


Que Deus te oriente em sua busca. Felicidades. .






segunda-feira, 8 de outubro de 2012

DA DISSOLUÇÂO DAS MÁGOAS


Como já falei aqui anteriormente, aliás, por inúmeras vezes, minha vida nos últimos anos, para ser bem preciso, nos últimos três anos oito meses e doze dias, tornou-se uma completa incógnita para mim mesmo. Tenho experimentado uma gama de situações que jamais julgaria possíveis, anteriormente, fui expulso da minha zona de conforto e passei a enfrentar uma realidade totalmente diversa da minha usual. Por minha total responsabilidade, é bom que seja dito.
E neste estranho enredo em que me vejo sendo o protagonista, o redator não me dá a mínima dica das próximas falas ou do papel que tenho de desempenhar, não tenho nenhum Ponto, sendo que ponto é aquele auxiliar que no teatro dá a dica quando o interprete esquece o texto, mas é assim com todo mundo, devo ressaltar, como diz esta fantástica escola filosófica, chamada Face Book:¨ A vida é uma peça que não permite ensaios ¨. Vai vendo aí, no que pese não haver contraditório, gostei desta expressão que aprendi com nossos Magistrados da Suprema Corte.
Depois de haver tomado algumas cervejas além do usual durante o almoço de domingo com meu filho, estou envolvido por esta névoa que embaralha o raciocínio lógico, mas resolvi assim mesmo, extravasar o que me vai pelo sentimento.
Neste último sábado, dia 06 de outubro de 2012,  por um destes acasos, e eu não acredito de forma alguma em acasos, tive uma oportunidade única de me livrar de uma parte das sombras que durante algum tempo se faziam minhas companheiras.
Muito raramente estamos dispostos a OUVIR as pessoas, não disse escutar, mas sim OUVIR,  ouvir realmente o que o outro tem a nos dizer, 
Em nossa extremada soberba, nos julgamos os senhores da verdade, portando, nada há que o outro possa dizer que tenha maior significado para o nosso próprio aprendizado, e assim agindo, vamos semeando sombras ao nosso redor, sombras que um dia acabam por obstruir qualquer luminosidade possível em nosso espírito.
Uma das maiores dores, ou melhor dizendo, um dos maiores sofrimentos pelos quais passei, foi não ser ouvido realmente quando o que eu falava não saia apenas da minha boca, mas sim da minha alma, contudo entendo perfeitamente que se tenho direito de falar, o outro tem também o direito de não querer ouvir, mas em um primeiro momento, foi uma experiência de tal forma traumática, que não está em meus planos reeditar, como se a vontade tivesse força suficiente para impedir a repetição.
Não posso afirmar se fui realmente de fato ouvido, espero que sim, porém apenas pelo fato de ter podido expressar o que estava represado na alma, me proporcionou uma libertação de sentimentos menores que se faziam meus companheiros de jornada, me envenenando pela sua simbiose.
Raiva é uma emoção perfeitamente natural, todos nós  somos dela reféns em determinados momentos de nossa trajetória, mas os SENTIMENTOS de rancor e mágoa, muitas vezes nos direcionam ao ódio, veneno insidioso que contamina toda nossa circulação espiritual e nos prende a terra,  impedindo-nos de alçar vôos mais plenos.
Honestamente, nunca odiei ninguém, Deus me livre deste sentimento vil e depressivo, mas andava carregando algumas pequenas mágoas pelo meu trajeto, e mesmo sabedor das conseqüências de abrigar esta casta de sentimentos, mesmo que em doses menores, não conseguia deles me liberar, justificava-me intimamente, como sempre fazemos, julgando-me credor, esquecendo-me convenientemente dos inúmeros débitos d alma, contraídos junto a terceiros.
Sempre que leio a passagem evangélica referente a mulher adúltera, onde Jesus foi posto à prova quanto a validade da lei judaica que preconizava o apedrejamento da mulher que fosse apanhada em adultério, vejo-me sempre na condição daqueles que após serem confrontados com o singelo ensinamento, foram saindo de fininho, despistando, fingindo que nem estavam ali, jogando suas pedras para bem longe e achando um absurdo que alguém pudesse querer jogar um pedregulho que fosse na azarada criatura apanhada em flagrante delito.
Pois é, aquele que se ache isento de erro que atire a primeira pedra. No entanto enchemos freqüentemente nossas almas com paus e pedras, cheios de uma razão que não possuímos, amparados no que sempre denominei, certeza da ignorância. 
Já repararam como certos indivíduos são capazes de afirmar com a mais absoluta certeza que dois mais dois perfazem cinco? 
E ai de quem os ousar contrariar, será chamado de teimoso, isto para me restringir ao mínimo do que é de fato falado.
Conheço, como tenho certeza que todos também conhecem,  os dois lados desta moeda, já teimei que era certo, estando completamente equivocado, assim como fui contestado arduamente quando a verdade estava ao meu lado. Tudo isto é parte do processo de aprendizado.
As matérias primas de nosso processo evolutivo são a VIVÊNCIA e a EXPERIÊNCIA, operadas pelo APRENDIZADO e a PRÁTICA, não há outra forma de evolução, li muito recentemente a formulação de um pensamento sobre este assunto:  O que o homem não conhece, para ele não existe, o mundo tem a abrangência do seu conhecimento. Infelizmente não recordo o nome do inspirado autor do enunciado, mas nada existe de  mais cristalino do que o que foi tão bem sintetizado. Só reconhecemos e damos conta do que nos é conhecido, não poderia ser diferente, e assim também se faz em tudo mais que nos cerca, em relação aos nossos sentimentos então é infalível.
Só reconhecemos a mentira porque também a experimentamos em determinado momento, acusamos o semelhante de toda forma de defeitos, sem perceber que os julgamos tomando por base e medida a nossa própria falibilidade e inferioridade.
Não possuo autonomia para aconselhar quem quer que seja, contudo deixo aqui não um conselho, mas sim um pedido. Tenham a inteligência e a virtude da caridade em ouvir o que o outro tem a dizer com isenção de sentimentos. Temos o inalienável direito de discordar de tudo o que nos for dito, mas quando abrimos o nosso ouvido espiritual de forma isenta, muitas vezes nos surpreendemos em erros de avaliação. Querem o mais simples dos exemplos? Quem de nós já não antipatizou gratuitamente com alguém e a vida encarregou-se de transformar esta antipatia gratuita em amizade, afeto e muitas vezes convertê-la em amor.
Este texto hoje serve como uma forma de agradecimento por ter sido ouvido, ou ao menos,  me ter sido permitido falar, mas muito mais do que isto, agradeço a oportunidade de esvaziar esta mágoa corrosiva que vocês podem lamentavelmente identificar em textos anteriores que fiquei tentado a deletar deste blog, mas que percebi ser didaticamente útil deixar aqui registrado para que eu próprio pudesse entender os mecanismos que me levaram a escrevê-los.
Agradeço pela emoção do abraço que percebi sincero e tão ansiado, de ter sido tratado com respeito, tratado com o antigo carinho e afeto que tanto bem me fez, os quais, apesar da confessada mágoa, nunca foram esquecidos ou desvalorizados, muito ao contrário, estas lembranças foram o  impeditivo para que esta mágoa insipiente transformasse-se em um sentimento mais viral, mais destrutivo, principalmente para mim mesmo, como sempre acontece com quem os abriga, pois a mágoa é o veneno que tomamos tentando matar o outro, portanto nada mais improdutivo.
Sendo esta uma questão de caráter íntimo, que aqui hoje exponho com a manifesta intenção de semear concórdia e valores de fraternidade em um mundo tão carreado de rancores, não me seria lícito nomear quem quer que seja, mas o importante é que se este texto chegar ao  conhecimento das pessoas a quem este texto é dedicado, elas certamente nele se reconhecerão
Muito obrigado a vocês, senão por me ouvir, por me escutar, ou minimamente me terem permitido falar, tomara que a verdade do que falei possa ter sido compreendida, e ter finalmente a acolhida tão necessária para a minha paz interior. 
Não pleiteio nem anseio por qualquer outro tipo de mudança, a vida seguiu sua marcha sempre à frente e me descortinou novas possibilidades, novos papéis, me apresentou novos companheiros de cena, novos atores e me proporcionou uma nova vivência,  espero sinceramente que eu possa aprender um pouco mais, para que assim eu não tenha que improvisar minhas falas neste grande papel que foi a mim reservado neste espetáculo que é o ato de viver.
Finalizo com um pensamento de Irmã Dulce.
¨ Quem tem tempo para julgar o próximo, não tem tempo para amá-lo ¨
Possa Deus, o nosso  Grande Diretor Celestial, me servir de ponto, de orientação quando eu esquecer minha fala, ou não entender a atuação que se espera da minha personagem.
Um grande abraço.

RICARDO M.

Aproveito para anexar uma antiga poesia que estava engavetada, hoje ela carece de sentido, mas ainda posui seu valor.


TRIBUTO  A SOLIDÃO


Solidão, anseio pela sua companhia
Um milhão de vezes as noites mais sombrias
Do que esta inquietude a corroer a alma
Seca do meu rosto o insano pranto
Cale de uma vez por todas o som desta voz, que como encanto
Vem durante a noite, em acalanto, me roubar a calma
Apaga dos meus olhos a lembrança deste olhar
Que na penumbra do meu quarto, passo sempre a vislumbrar
No exato instante em que me deito
Vem logo,e expulse-a para fora do meu leito
Quem sabe assim se desta forma, deste jeito
Ela nunca mais volte a importunar
Solidão, és minha derradeira esperança
De apagar de uma vez por todas esta lembrança
Para que eu então possa  a minha paz recuperar
Esvazia do meu peito o sentimento
Apague esta imagem, que me invade o pensamento
Vem ficar comigo me impedindo de sonhar
Solidão, hoje eu sei, foste minha mais leal amiga
Volta agora, ignore a nossa briga
Tente entender, foi só da boca pra fora, falei tudo por falar
Pedi que você partisse sem demora
Pus você pela minha porta afora, e gritei pra não voltar
Hoje  sou eu, que como um louco te implora
Vem, vem correndo, vem bem rápido, vem agora
Mande a sombra dela embora, e ocupe o seu lugar
Solidão querida amiga, és  bem vinda novamente em minha vida
Não se faça de desentendida, não fique assim tão inibida,  pode se aproximar
Vem não me maltrate, não me negue a acolhida,  não me deixe a te esperar
Vem, vem sim, vem ficar aqui bem ao meu lado
Faz de conta que eu sou seu namorado para assim ficarmos juntos
O que não nos falta é assunto.
Temos muito que falar.


RICARDO M.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

TRIBUTO A INGENUIDADE

CONTADORA DE ESTRELAS

A menina distraída conta estrelas
Perdida em seus pensamentos, entregue a contemplação
Não percebe que os astros, também a olham de esguelha
No brilho de seu olhar, abriga-se uma constelação
Sonha um sonhar acordado, não tendo de mais nada a mínima noção
Anseia por amores inexistentes, meiga, pura, inconseqüente
Envolvida em sua doce abstração
Suspira de um jeito tão profundo, que se escuta até no fim do mundo
Suspiro que nasce bem lá no fundo do inocente coração
Conta para as estrelas seus mais íntimos segredos
E elas curiosas a escutam, em total enlevo
Irradiam suas luzes, fulguram na amplidão
Sonha a doce menina distraída
Plena de sentimentos, sente a alma distendida
Imersa totalmente em sua singela ilusão
Amanhece o dia, as estrelas acenam em despedida
A menina traz no olhar duas lágrimas incontidas
Estrelas líquidas, pérolas vertidas
Materializam o seu sentimento extravasando a emoção
Vai doce menina, sonhe, conte as estrelas distraída
Pois um dia em poeira convertidas, estas estrelas implodidas
Escurecerão os céus, te embaçarão a visão
Mas até lá, suspira, feche os olhos, faça planos
Desconhece desta vida, a fina dor dos desenganos
Traz ainda pura a alma, intocado está seu coração.

Ricardo M

quarta-feira, 11 de julho de 2012

DE PAI PARA FILHO


Olá amigos.

Hoje lhes peço licença para me dirigir, não só a vocês, mas a um amigo em especial.

Olá meu filho

No dia 18 de Julho de 2012, meu filho primogênito, expressão curiosa esta, meu filho mais velho, para ser mais coloquial então, estará após uma longa jornada de seis anos, colando grau no Curso de Medicina, é o Vinícius vai virar doutor, vejam bem, usei o termo doutor em minúscula, de propósito, pois nunca fui muito afeito a estas convenções que nos fazem perder o caminho da simplicidade, e só nos trazem ilusão, orgulho e vaidade. E disto eu sei na primeira pessoa.
Lembro-me com clareza do dia de sua chegada, talvez o que vou dizer aqui  agora, possa escandalizar aqueles que se aterem apenas ao valor  frio das palavras, mas ao contrário da maior parte das pessoas, das quais sinto uma determinada inveja, não posso dizer que tenha sido um dos dias mais felizes da minha vida, me explico antes que me tomem por alguém destituído da mínima sensibilidade, o que não sou, muito ao contrário.
Como a sua chegada não havia sido planejada, deixo aqui de lado as minhas considerações espíritas para não complicar, pois nada acontece por acaso, mas desconsiderando esta verdade, eu não estava minimamente preparado para sua chegada, quer emocionalmente, ou financeiramente falando, não dizendo com isso que ele não fosse aguardado com muito carinho e ansiedade, mas estou falando de um dia específico o dia do seu nascimento.
É muito nítido o quadro na minha memória, adentrei as dependências do HINJA em Volta Redonda com a minha então mulher em trabalho de parto e com o mundo sobre os meus ombros, fazemos nossas escolhas e quando somos defrontados com as conseqüências delas advindas, é normalmente aí , que se instala o pânico.
Pânico, esta é a palavra mais branda para descrever a gama de sentimentos e pensamentos que me atravessavam o ser naquele momento.
Como é que eu podia ser pai?  Que condições eu tinha para orientar, ou como se diz mais comumente, CRIAR um filho?  Como ser um orientador, quando eu próprio era um quebra cabeças totalmente espalhado e com inúmeras peças faltando? Sentia-me inadequado, incapaz.
E a principal pergunta que me martelava o cérebro naquele instante. Como eu arcaria com as despesas do Hospital?  Assim sendo diante de tantas urgentes questões, este instante que era para ser revestido de um significado especial, diria mesmo santificado, se viu contaminado pela premência das questões financeiras e as dúvidas existenciais.
Lembro-me que passadas algumas horas e nada de receber qualquer notícia, o nervosismo foi se instalando e me vi dominado pelos pensamentos de que algo poderia dar errado, e perante a possibilidade de um problema mais sério com a criança, as outras questões emudeceram-se e a tensão instalou-se insidiosamente.
Estava em oração pedindo o amparo de Deus para que tudo pudesse seguir com normalidade, quando sai pela porta o Dr. Vitor Emanuel,  Obstetra e Ginecologista, veio com um sorriso estranho, assim meio de esguelha, falou que o parto tinha terminado e que tinha demorado além do previsto, pois não havia sido possível ser um parto normal como à princípio era vontade da mãe, pois não houve dilatação suficiente, causando desconforto enorme para a parturiente e levando riscos ao nascituro,  outra palavra especial.
Informou-me que tudo havia transcorrido normalmente, com exceção de dois pequenos problemas, agora imaginem minha cara ao receber esta notícia, parto e problemas não são palavras para caminharem juntas em uma mesma sentença sem causar arrepios, mas voltando a cena, me diz ele placidamente, dois pequenos problemas, tomei coragem, tremendo intimamente com o que estava por saber e perguntei: ¬ Que problemas? E acrescentei exibindo uma coragem que estava longe de sentir: ¬ Pode dizer Doutor, eu estou preparado.
Ele me olha e diz da forma mais cínica possível: ¬ Ele nasceu careca e sem dente. Que os panos do pudor caiam sobre esta cena, como diria Mark Twain.
Que enorme alívio e uma vontade maior ainda de matar o Dr. Vitor.
Dr. Vitor Emanuel, nome de rei italiano, médico na acepção da palavra e um ser humano de qualidade, um amigo, um anjo que Deus, naquele momento, havia  enviado em resposta as minhas orações.
Médico das mulheres da família, sempre acessível, cordial, receptivo, humano, qualidades que mais do qualquer outra coisa, quero ver refletidas na conduta profissional e pessoal do meu filho.
Após o susto, aproximo-me timidamente dele e pergunto em uma voz meio trêmula e sumida na garganta: ¬ Dr Vitor, quanto ficou o parto do Vinícius?  Ele me olha meio de lado e fala com o canto da boca: ¬ Vá a merda.  Eu sem entender direito, tornei a fazer a mesma pergunta, e ele vira-se totalmente na minha direção e olha bem dentro dos meus olhos e repete: ¬ Vá a merda, guarde o seu dinheiro para começar a tomar conta do seu filho, vocês são meus amigos, estudei com seu cunhado, seu irmão foi meu aluno na Faculdade de Medicina, não tem cabimento isto, e foi assunto encerrado.
Vergonha, alívio e uma gratidão imensa,  que  faz com que neste momento  meus olhos encham-se de lágrimas  de reconhecimento e meus melhores pensamentos sigam em prece ao amigo, que tanto me ajudou, principalmente com a sua amizade.
Para encurtar o parto, se posso assim dizer, minha mãe, meu Anjo da Guarda em forma de mulher, pagou as outras despesas do Hospital, e assim fui introduzido a paternidade.
Quando me mostraram o Vinícius na maternidade, aquela coisa enrugada, com enorme semelhança com o meu joelho, pensei :  ¬  Oh moleque feio! Quase me mataram quando falei o que achava quando me perguntaram. Anos mais tarde quando conversava com amigos em um jantar e contei esta história, meu amigo, Dr. Jair Nogueira, Cardiologista, falou em tom de libertação: ¬ Cara que alívio, eu também achei a  minha filha muito feia  quando ela nasceu, mas achava que eu era anormal, por isso nunca confessei  nada disto para ninguém.
Como vocês podem imaginar, foi aquela gargalhada geral  e a mulher dele totalmente espantada com a inusitada confissão. Faço idéia do furdunço  mais tarde.
Desculpem-me esta enorme introdução, mas as reminiscências são a razão deste artigo.
Não há receita de bolo, quanto mais em relação a casamento e criação dos filhos, cada um tem sua fórmula, meu casamento foi bem sucedido durante 22 anos, depois tomamos rumos diferentes, mas ainda somos e sempre seremos uma família, quanto aos filhos, posso dizer que sou uma pessoa extremamente afortunada, como o texto é uma espécie de homenagem ao Vinícius, vou ater-me excepcionalmente  a ele hoje.
Vinícius sempre foi um menino especial, ao contrário da minha primeira impressão, que, diga-se de passagem, eu era o único a ter em relação a sua ausência de formosura ao nascer, logo após as primeiras semanas, revelou-se um neném encantador, daqueles de revista mesmo, carequinha com uma penugem loirinha, com um rostinho lindo, que logo a mãe começou a chamar de meu pintinho, ele vai me matar, mas para que servem os pais a não ser para constranger os filhos, e no  caso dos meus pais,  pagar a conta do hospital.
Um menino extremamente carinhoso, de gênio forte, muito corajoso desde bem pequeno, decidido, com um espírito de liderança que chegava a me incomodar em certos momentos, a brincadeira era a que ele determinava, um menino obediente, que nunca me causou um problema mais sério, se não soubesse da seriedade da mãe, faria um exame de DNA, pois não parece meu filho não.
Nunca falou uma mentira mais cabeluda para nós, sempre foi muito transparente, de uma exigência própria enorme a qual tem a péssima mania de cobrar na atitude alheia, sempre competitivo, mas nunca desleal, um ótimo e fiel amigo e namorado, como pode comprovar a Arine, parece que estou a descrever um anjo, o que ele não é,  como pode endossar a Amanda, sua irmã, é simplesmente um ser humano de qualidade, do qual tenho a enorme felicidade de ser pai.
Quando passou no vestibular para Medicina, mais uma vez minha alegria estava obscurecida pela preocupação de como manter um curso tão dispendioso quanto este, mas fomos seguindo até a bandeira de chegada, empurrando o carro às vezes,  torcendo para a gasolina dar em outras, rezando para um pneu não furar, e usando uma expressão que realmente adoro de nossos irmãos evangélicos,. Até aqui nos ajudou o Senhor, ao que acrescentarei, e nunca deixará de nos ajudar,  desde de que nos ponhamos em ação.
A sua ida para Vassouras, não gosto nem de lembrar, chorei uns três dias direto, nem parecia que eu tinha deixado um filho para realizar o seu projeto de vida, parecia mais que eu tinha ido a um funeral, mas isto também já é história, hoje é motivo de riso e gozação na família, mas no dia, não foi nada fácil.
Mas aí está você, com seu curso concluído e as vésperas de colar grau, mais uma etapa realizada, agora é só esperar a festa e a inevitável choradeira..
Não teríamos conseguido esta vitória sem a ajuda de Deus em primeiríssimo lugar, e sem a ajuda de tantas pessoas que seria impossível para eu nominar, mas deixo aqui meu tributo de gratidão a  nossa família, a qual sempre esteve ao nosso lado, incondicionalmente.
Inicia-se para você agora meu filho, um caminho que vislumbro ser de muito trabalho, de grandes realizações e se Deus consentir, de muita felicidade para você, todos os pais querem que seus filhos  sejam BEM SUCEDIDOS, mas qual o real significado desta expressão?   Você porém sabe o que isto quer dizer para este seu pai,  tão cheio ainda de peças faltando no seu quebra cabeça.
O que eu espero de você acima de qualquer coisa, de dinheiro, de posição social, fama ou qualquer outro adereço ilusório que possa ser confundido com SUCESSO, é que você mantenha sempre uma índole dócil, amigável, solidária, que profissionalmente, você possa espelhar-se no exemplo de MÉDICO, agora em maiúsculas, que é o profissional que te trouxe à luz, que você possa ainda guiar-se no exemplo  de conduta profissional que é exemplificada pelo seu tio, profissionais dos quais você se tornará em poucos dias, colega de profissão
Nunca se esqueça que depois da própria vida, a saúde é o bem mais precioso do ser humano, seguido bem de perto da sua, liberdade.
Se eu puder, e eu certamente  posso, farei um único pedido. Nunca se esqueça da sua própria humanidade e o que ela comporta, principalmente a falibilidade. Trate seu semelhante com respeito e afeto, dinheiro é contingência de um trabalho bem feito, e não é o quesito principal para se ter felicidade, a maior tragédia humana é não compreender ainda que a maior felicidade, a felicidade real, está em servir ao próximo, seu pai tem inúmeras falhas, mas tenta arduamente seguir esta diretriz, nem sempre consigo, é verdade, mas é assim mesmo, TENTATIVA E ERRO, até que um dia a gente consegue agir com  ACERTO.
Não se atenha a falsas ilusões de pretensa grandeza escondidas por trás de títulos e investiduras, são apenas adornos para o nosso ego que tem o condão de nos cegar para as realidades da vida, seja um Doutor em simpatia, em humanidade, em caráter, em grandeza da alma, trate todos os que te procurarem com alegria e atenção, dando o melhor de você, não só profissionalmente, mas principalmente como homem, este homem íntegro que você se tornou.
Seja exemplo de profissional, mas seja maior exemplo ainda de um ser humano integral, de formação moral sólida, nunca se esquecendo dos princípios religiosos que tentamos te transmitir, princípios estes que às vezes você contesta,   até mesmo para me irritar de vez em quando, sim, ele é irritante as vezes, mas princípios que nem por isto são menos reais, somos espíritos habitando um corpo, este sim é perecível, portanto nunca se esqueça desta realidade, antes que o corpo apresente os sintomas, os distúrbios se estabelecem na alma, nunca perca isto de vista.
Tenha sempre a mente voltada para o Mais Alto, nunca prescindindo de pedir a proteção Divina, não só para o seu exercício profissional, mas em todos os outros aspectos da sua vida.
Tenho enorme orgulho do homem que você se tornou, apesar das minhas limitações, continue sempre em direção ao bem, seu pai estará sempre ao seu lado, até mesmo para a eventualidade de ter de pagar a conta do parto do seu filho no Hospital, se isto for necessário.  Mas Deus me livre desta tragédia e desta conta.
Lembre-se do açúcar que te falei na viagem  de regresso de  Vassouras para casa, esta sim com um sorriso no rosto.
Torno meus votos e minhas advertências paternais, abrangentes a todos os seus colegas de turma, que eles possam ser muito felizes nesta nova etapa que se inicia, de passo em passo vamos todos percorrendo o trajeto.
Que Deus Nosso Pai de Infinita Bondade e Justiça nos ampare hoje e sempre
Parabéns  Doutor. Vinícius Vieira de Mendonça e Silva
Parabéns meu filho

Ricardo M   
Hoje apenas um pai muito orgulhoso do seu filho..

quinta-feira, 7 de junho de 2012

MESA DE BAR


Olá Amigos.

Hoje xeretando nos mecanismos deste blog, só agora os  descobri , pois sou um confesso Analfabyte, vi  que meus textos já foram acessados mais de 1500 vezes, em comparação a outros blogs seria comparar uma luta minha com o Anderson Silva, mas para quem não tinha a princípio a mínima pretensão de ser lido por quem quer que fosse,  é uma grande façanha.
 No comecinho isto era verdade, esta coisa de não me importar em ser lido, mas através dos gestos de gentileza de amigos que me incentivaram com suas palavras de estímulo, fui tomando gosto pela coisa, e comecei a querer que as pessoas se interessassem pelos meus pensamentos imperfeitos, porém  mais do que o prazer de ter outras pessoas interessando-se pelo o que eu tenha a dizer,  o blog me fascina principalmente pelo enorme potencial de catarse emocional que o ato de escrever me proporciona,  é muito mais um acerto de contas com meus sentimentos e minha vivência dos fatos, me levando a uma forma de auto conhecimento  que era por mim ignorada até então, do que auto exposição, ou vaidade literária, pois escrever de forma competente exige recursos que ainda não possuo.
Sempre aconselhei a todos o hábito da leitura, um prazer que desfruto desde que me entendo por gente, mas nunca pensei que o ato de escrever também pudesse ser tão compensador emocionalmente, portanto façam vocês mesmos a experiência e ponham no papel as suas emoções, suas interpretações do que é vivenciado, mesmo que seja para você mesmo, e de fato sempre é, vocês verão que é uma ótima ferramenta para a própria compreensão e aprendizado.
Como estou vivenciando uma fase poética, tudo o que observo acabo tentando transformar em um texto poético, às vezes até acho que sou bem sucedido, em outras fico devendo, mas isto não me encabula mais não, coitado é de quem lê.
Meu profundo agradecimento a todos pela enorme generosidade com que estes textos são acolhidos,  hoje é também pensando em quem os lê, ou seja,  em vocês,  que eu os escrevo.
Esta poesia é auto-explicativa, reflete a  minha própria experiência de  certos momentos, onde a mesa de bar foi o derradeiro consolo, um destes tão decantados paraísos artificiais, onde os sorrisos não passam de frágeis fachadas, onde vive-se a camaradagem etílica, onde as pessoas pretensamente felizes,  em sua grande maior parte,  vivem suas inconseqüências, sem coragem de encarar o abismo de suas emoções, suas lacunas existenciais,  enfim como diz a letra de uma música que sempre me marcou, e é dela que veio a inspiração para a poesia, onde deixamos a falsa alegria a tristeza enganar.
Em tempo ressalto que, nada tenho contra a boemia, muito ao contrário, a ela sou bastante afeito,   trata-se apenas de uma advertência fraternal para que isto não venha   tornar-se  pretexto para  não  encarar  a própria realidade, as  incursões  a este universo, o das mesas de bar, fazem parte do nosso aprendizado de vida, mas anseio pelo dia que estas incursões sejam realmente apenas um complemento da nossa alegria, uma manifestação real de felicidade,  uma comemoração saudável pela beleza e a grandeza da vida.
Que Deus nos ampare nas nossas melhores aspirações, um grande abraço

Ricardo M

                                                      MESA DE BAR


Mesa de bar,companheira constante
Dos meus sonhos delirantes
Companheira de boemia
Amiga das horas incertas
Se trago a alma irrequieta
Só você me completa
Abranda-me a disritmia
Em seu bojo vejo as marcas
Entre os copos e as garrafas
Cicatrizes na madeira
Juras de amor rabiscadas
O nome da namorada
Junto ao placar da rodada
O desenho de um coração
Sempre a testemunha calada
Parceira da madrugada
Total absolvição
Minha leal confidente
Sólida e resistente
Derradeira consolação
Dentro de suas linhas retas
De meus segredos repleta
Vem sempre a resposta certa
Prá minha alma vazia
Mas nesta noite sombria
Deixo a você meu alerta
Vê se deste sonho desperta
E encare a realidade exposta a luz do dia
Todos que depredaram
Que em suas cadeiras sentaram
São reféns da melancolia
Simplesmente te usaram
 Só teu corpo profanaram
Como alívio da agonia
Não foram a ti solidários
Eram assim como eu, simples solitários
Vivendo de falsa alegria

Ricardo M