Olá amigos.
Após um longo tempo afastado
destas páginas, hoje me senti compelido a elas retornar, infelizmente, impelido
pela tristeza, por uma total consternação e um indescritível sentimento de
espanto, pela constatação do grau de adoecimento do nosso organismo social.
As páginas de nossos principais
jornais, e todo restante da nossa mídia escrita, falada e televisada, assim
como, e principalmente das Redes Sociais, com destaque para o Facebook, nos
mostraram em cores vivas, cores rubras de sangue, em plena luz do dia e em local público, a
execução sumária de um suposto assaltante, como ele não foi julgado e
condenado, a palavra, suposto, é a mais adequada e justa.
O vídeo expõe a execução fria e
inumana de outro ser humano, não há como desqualificar ninguém desta condição,
muito menos quem perpetrou a execução, apesar de eu mesmo ter usado o adjetivo,
inumano para descrevê-la.
Nasci em um lar de aprendizagem
cristã, e tive minha educação religiosa baseada nos princípios da Doutrina
Espírita, tenho as deficiências normais que vejo em quase todos os que me
cercam, assim como as qualificações que observo na maior parte das pessoas que
me é dado conviver, em suma quero dizer que sou um ser humano normal, não tenho
pretensões a santidade, ou dar testemunho do que não penso ou sinto de fato.
Sei dos enormes desafios que
enfrentamos na atualidade, a alguém mais desatento, tem-se a impressão, que
tudo está desabando, minhas convicções não me permitem enxergar os
acontecimentos por este prisma.
Não quero aqui tecer discussões
teológicas ou filosóficas, careço de subsídios para sustentá-las, ou mesmo de
vontade de assim proceder.
Mas quando vejo tantos irmãos de
caminhada defendendo e justificar um ato criminoso, que deveria nos envergonhar
a todos, enquanto membros desta sociedade,
escuto aplausos e aprovação a
este ato de barbárie e desamor.
Em pleno Século XXI, a defesa de atos que já fizeram parte de nossa
trajetória anterior, que a história nos transmitiu, os circos romanos, a
sociedade de Esparta, as hordas mongóis, a Inquisição e tantos outros eventos
já encobertos pela poeira do tempo.
Muito recentemente, o advento do
nazi-fascismo, que ainda hoje encontra acolhida em grupos de ódio racial e tantos outros grupos que pregam o ódio e a
descriminação como modo de vida.
Este não é um artigo religioso em
sua motivação, mas talvez o seja em sua essência, nosso organismo social, nossa
sociedade, encontra-se em privação de variadas substâncias, tais como: Respeito
ao próximo, honestidade, preceitos de ética e moral, fraternidade, caridade e o
principal elemento ausente desta circulação, o amor.
Como qualquer um, me espanto com
a escalada da violência e dela já fui vítima também, leio diversas publicações
e constato o nível de descontrole das autoridades não só com a segurança, mas
com tudo que lhes é dado ordenar, educação, saúde etc etc.
É muito fácil, a quem quer que
seja, colocar sob a responsabilidade de alguns o que é responsabilidade de
todos, se alguém tem qualquer dúvida, basta se observar o momento atual.
Viramos nossos rostos àqueles que
nos pedem por auxílio, pretextando não termos nada com os problemas deles, as
crianças que estão na rua, não foram por nós geradas, portanto não são da nossa
conta, os drogados são fracos de alma, que sucumbem aos seus vícios por falta
de vergonha na cara, portanto eles que se virem, a velhice desassistida que tem
por teto as marquises das cidades, são de única responsabilidade dos próprios
filhos que os abandonaram, ou no máximo dos órgãos que lhes compete dar
acolhida e por aí vai.
Só que um dia, estes clamores chegam
à nossa porta, e a arrombam de forma violenta, pois este é o único universo que
conhecem, o do desamor.
Longe estou de fazer apologia a
defesa de quem pratica um delito apenas pelo meio em que está inserido, pois se
esta fosse a razão, nossas comunidades estariam completamente tomadas pela delinqüência,
e em sã consciência sabemos que isto não ocorre, são as primeiras vítimas deste
sistema torpe que escolhemos para viver.
Sim, escolha individual de cada
um de nós que compõe este tecido social adoecido, escolhemos livremente, temos
variadas opções e optamos pelas que nos são mais confortáveis, portanto, só
podemos cobrar de nós mesmos sairmos desta postura hipócrita, da crítica
indiscriminada, do julgamento inclemente da conduta alheia, e agir de acordo
com o nosso discurso.
Queremos melhoria? Procuremos a
melhora íntima. Queremos um Governo menos corrupto? Que sejamos então mais
verdadeiros. A escolha de nossos dirigentes se faz por processo eletivo,
secreto, portanto, nossas escolhas refletem nossos interesses ou a falta deles.
Temos os governantes que merecemos, se são deploráveis, é porque a sociedade
que os elegeu assim o é, deplorável.
Sei que muitos que clamam por
esta volta a barbárie, tem por justificativa a perda de um ente querido por
atos de assombrosa violência, a eles sou solidário, não desconheço esta
realidade, mas não podemos endossar atos criminosos, que nos igualam ao que
execramos.
Desculpem-me a honestidade e a
franqueza de discurso, mas estão doentes da alma, como estes infelizes irmãos
de aprendizado que perpetram tais atos de total insanidade da alma.
Há muito, nos foi legado
ensinamentos que se postos em prática, teríamos hoje, uma sociedade
completamente diferente da nossa atual. Ódio só gera mais ódio, penalidades
fora do âmbito das que são preconizadas pelo nosso estado de direito, nos levam
para o mesmo lado da cerca, para o mesmo patamar, onde estão os que agora
condenamos.
A criminalidade alimenta-se da
ignorância, da falta de fraternidade que escasseia as oportunidades de outros
caminhos. Todos nós temos escolha, e completa responsabilidade pelo efeito que
elas causam.
É preciso abandonar o discurso
vazio e partir para ação, não esta, a de tomar as rédeas da Justiça em nossas
mãos, mas sim, a ação produtiva, equilibrada e sobre tudo, fraterna.
Enquanto não entendermos de fato
e de direito esta realidade, nos veremos
na contingência do medo, da ignorância, da imaturidade espiritual, que são os
substratos dos quais se alimenta a criminalidade.
Entristece-me ver pessoas
endossando a atitude de outro criminoso, pois quem executou, pasmem, também tem
passagens pela polícia, e nem se não as tivesse.
Li um artigo no Jornal Globo, do
Deputado Marcelo Freixo, e confesso que não entendi o seu ponto de vista.
Entendo claramente que nosso sistema prisional, longe de recuperar, exacerba as
má qualificações de quem nele da entrada,
que as penas por muitas vezes são aplicadas sem um critério mais sensato
e equilibrado, mas não se pode ser conivente com o delito, seja ele qual for,
do desvio de verbas públicas a receptação de pneus roubados do caso que ele
ilustra.
Precisamos sim, de uma discussão
intensa sob os rumos da nossa sociedade, o que queremos para nossas famílias,
mas nunca soube que ódio conseguisse dar à luz, nada que não fosse mais ódio.
Desculpem-me os que exerceram seu
sagrado direito ao livre discurso em defender tais atos, mas a meu ver, estão
tão doentes quanto os protagonistas deste drama, que se tornou banal, pela
assiduidade com que acontece, a diferença é que este foi postado nas redes
sociais, e o impacto se fez mais sentido pela vasta gama de sentimentos que
suscitou.
Seria bom recordarmos uma máxima,
de conhecimento geral, um ensinamento singelo, como tudo que Ele nos
transmitiu. Com a mesma medida que julgas será julgado. Fazer ao teu próximo, o
que gostaria que ele fizesse a você. Mesmo que este próximo seja aquele que
carrega em seu íntimo imperfeições mais acentuadas do que as nossas próprias,
pois afinal quem nunca errou que seja o primeiro a atirar esta pedra.
Confesso-lhes que às vezes as minhas pedras estão bem à mão, mas nunca até
hoje, delas partiram em direção a ninguém.
Tomar a lei nas próprias mãos, é
clamar pela desordem social, pelo aparecimento de grupos de extermínio e
correlatos. Será que já não temos disso tudo em demasia?
Por mais vulneráveis que sejam as
nossas instituições, elas são o que nos separam da barbárie institucionalizada,
este capítulo já deveria estar em nosso passado.
Que este Pai de extrema Justiça e
Bondade, possa nos inspirar no caminho da fraternidade.
Para fraseando John Lennon: Você
pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único, pois no final, o bem
sempre se sobrepujará ao mal. Esta é a Lei.
Um grande abraço
Ricardo M