quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

DOENÇA SOCIAL

Olá amigos.
Após um longo tempo afastado destas páginas, hoje me senti compelido a elas retornar, infelizmente, impelido pela tristeza, por uma total consternação e um indescritível sentimento de espanto, pela constatação do grau de adoecimento do nosso organismo social.
As páginas de nossos principais jornais, e todo restante da nossa mídia escrita, falada e televisada, assim como, e principalmente das Redes Sociais, com destaque para o Facebook, nos mostraram em cores vivas, cores rubras de sangue,  em plena luz do dia e em local público, a execução sumária de um suposto assaltante, como ele não foi julgado e condenado, a palavra, suposto, é a mais adequada e justa.
O vídeo expõe a execução fria e inumana de outro ser humano, não há como desqualificar ninguém desta condição, muito menos quem perpetrou a execução, apesar de eu mesmo ter usado o adjetivo, inumano para descrevê-la.
Nasci em um lar de aprendizagem cristã, e tive minha educação religiosa baseada nos princípios da Doutrina Espírita, tenho as deficiências normais que vejo em quase todos os que me cercam, assim como as qualificações que observo na maior parte das pessoas que me é dado conviver, em suma quero dizer que sou um ser humano normal, não tenho pretensões a santidade, ou dar testemunho do que não penso ou sinto de fato.
Sei dos enormes desafios que enfrentamos na atualidade, a alguém mais desatento, tem-se a impressão, que tudo está desabando, minhas convicções não me permitem enxergar os acontecimentos por este prisma.
Não quero aqui tecer discussões teológicas ou filosóficas, careço de subsídios para sustentá-las, ou mesmo de vontade de assim proceder.
Mas quando vejo tantos irmãos de caminhada defendendo e justificar um ato criminoso, que deveria nos envergonhar a todos, enquanto membros desta sociedade,  escuto  aplausos e aprovação a este ato de barbárie e desamor.
Em pleno Século XXI,  a defesa de atos que já fizeram parte de nossa trajetória anterior, que a história nos transmitiu, os circos romanos, a sociedade de Esparta, as hordas mongóis, a Inquisição e tantos outros eventos já encobertos pela poeira do tempo. 
Muito recentemente, o advento do nazi-fascismo, que ainda hoje encontra acolhida em grupos de ódio racial  e tantos outros grupos que pregam o ódio e a descriminação como modo de vida.
Este não é um artigo religioso em sua motivação, mas talvez o seja em sua essência, nosso organismo social, nossa sociedade, encontra-se em privação de variadas substâncias, tais como: Respeito ao próximo, honestidade, preceitos de ética e moral, fraternidade, caridade e o principal elemento ausente desta circulação, o amor.
Como qualquer um, me espanto com a escalada da violência e dela já fui vítima também, leio diversas publicações e constato o nível de descontrole das autoridades não só com a segurança, mas com tudo que lhes é dado ordenar, educação, saúde etc etc.
É muito fácil, a quem quer que seja, colocar sob a responsabilidade de alguns o que é responsabilidade de todos, se alguém tem qualquer dúvida, basta se observar o momento atual.
Viramos nossos rostos àqueles que nos pedem por auxílio, pretextando não termos nada com os problemas deles, as crianças que estão na rua, não foram por nós geradas, portanto não são da nossa conta, os drogados são fracos de alma, que sucumbem aos seus vícios por falta de vergonha na cara, portanto eles que se virem, a velhice desassistida que tem por teto as marquises das cidades, são de única responsabilidade dos próprios filhos que os abandonaram, ou no máximo dos órgãos que lhes compete dar acolhida e por aí vai.
Só que um dia, estes clamores chegam à nossa porta, e a arrombam de forma violenta, pois este é o único universo que conhecem, o do desamor.
Longe estou de fazer apologia a defesa de quem pratica um delito apenas pelo meio em que está inserido, pois se esta fosse a razão, nossas comunidades estariam completamente tomadas pela delinqüência, e em sã consciência sabemos que isto não ocorre, são as primeiras vítimas deste sistema torpe que escolhemos para viver.
Sim, escolha individual de cada um de nós que compõe este tecido social adoecido, escolhemos livremente, temos variadas opções e optamos pelas que nos são mais confortáveis, portanto, só podemos cobrar de nós mesmos sairmos desta postura hipócrita, da crítica indiscriminada, do julgamento inclemente da conduta alheia, e agir de acordo com o nosso discurso.
Queremos melhoria? Procuremos a melhora íntima. Queremos um Governo menos corrupto? Que sejamos então mais verdadeiros. A escolha de nossos dirigentes se faz por processo eletivo, secreto, portanto, nossas escolhas refletem nossos interesses ou a falta deles. Temos os governantes que merecemos, se são deploráveis, é porque a sociedade que os elegeu assim o é, deplorável.
Sei que muitos que clamam por esta volta a barbárie, tem por justificativa a perda de um ente querido por atos de assombrosa violência, a eles sou solidário, não desconheço esta realidade, mas não podemos endossar atos criminosos, que nos igualam ao que execramos.
Desculpem-me a honestidade e a franqueza de discurso, mas estão doentes da alma, como estes infelizes irmãos de aprendizado que perpetram tais atos de total insanidade da alma.
Há muito, nos foi legado ensinamentos que se postos em prática, teríamos hoje, uma sociedade completamente diferente da nossa atual. Ódio só gera mais ódio, penalidades fora do âmbito das que são preconizadas pelo nosso estado de direito, nos levam para o mesmo lado da cerca, para o mesmo patamar, onde estão os que agora condenamos.
A criminalidade alimenta-se da ignorância, da falta de fraternidade que escasseia as oportunidades de outros caminhos. Todos nós temos escolha, e completa responsabilidade pelo efeito que elas causam.
É preciso abandonar o discurso vazio e partir para ação, não esta, a de tomar as rédeas da Justiça em nossas mãos, mas sim, a ação produtiva, equilibrada e sobre tudo, fraterna.
Enquanto não entendermos de fato e de direito esta realidade,  nos veremos na contingência do medo, da ignorância, da imaturidade espiritual, que são os substratos dos quais se alimenta a criminalidade.
Entristece-me ver pessoas endossando a atitude de outro criminoso, pois quem executou, pasmem, também tem passagens pela polícia, e nem se não as tivesse.
Li um artigo no Jornal Globo, do Deputado Marcelo Freixo, e confesso que não entendi o seu ponto de vista. Entendo claramente que nosso sistema prisional, longe de recuperar, exacerba as má qualificações de quem nele da entrada,  que as penas por muitas vezes são aplicadas sem um critério mais sensato e equilibrado, mas não se pode ser conivente com o delito, seja ele qual for, do desvio de verbas públicas a receptação de pneus roubados do caso que ele ilustra.
Precisamos sim, de uma discussão intensa sob os rumos da nossa sociedade, o que queremos para nossas famílias, mas nunca soube que ódio conseguisse dar à luz, nada que não fosse mais ódio.
Desculpem-me os que exerceram seu sagrado direito ao livre discurso em defender tais atos, mas a meu ver, estão tão doentes quanto os protagonistas deste drama, que se tornou banal, pela assiduidade com que acontece, a diferença é que este foi postado nas redes sociais, e o impacto se fez mais sentido pela vasta gama de sentimentos que suscitou.
Seria bom recordarmos uma máxima, de conhecimento geral, um ensinamento singelo, como tudo que Ele nos transmitiu. Com a mesma medida que julgas será julgado. Fazer ao teu próximo, o que gostaria que ele fizesse a você. Mesmo que este próximo seja aquele que carrega em seu íntimo imperfeições mais acentuadas do que as nossas próprias, pois afinal quem nunca errou que seja o primeiro a atirar esta pedra. Confesso-lhes que às vezes as minhas pedras estão bem à mão, mas nunca até hoje, delas partiram em direção a ninguém.
Tomar a lei nas próprias mãos, é clamar pela desordem social, pelo aparecimento de grupos de extermínio e correlatos. Será que já não temos disso tudo em demasia?
Por mais vulneráveis que sejam as nossas instituições, elas são o que nos separam da barbárie institucionalizada, este capítulo já deveria estar em nosso passado.
Que este Pai de extrema Justiça e Bondade, possa nos inspirar no caminho da fraternidade.
Para fraseando John Lennon: Você pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único, pois no final, o bem sempre se sobrepujará ao mal. Esta é a Lei.
Um grande abraço
Ricardo M