sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CICATRIZES FLORES E LIBERDADE


Olá amigos

Pela primeira vez desde que comecei a aventura de publicar estes pensamentos imperfeitos, não sei de fato por onde começar,  tenho tanta coisa me rodeando os labirintos cerebrais, que ou sai algo surpreendente até para mim mesmo, ou nada que  faça  o menor sentido, portanto vamos lá ver no que isto vai dar.
Há algumas semanas atrás estive em Penedo, colônia finlandesa no sul fluminense, lugar bucólico de uma magia única, um daqueles lugares que nos faz sentir fora do mundo, por isso gosto tanto de lá, sempre me proporciona uma fuga do cotidiano.
Estava sentado em uma mesa com uma...  Amiga,  deve ser esta a nominação para ser usada agora, quando de nossa mesa aproximou-se uma senhora vestida de uma forma, diria pitoresca, dizendo-se  poetisa, que através da venda de seus textos ajudava pessoas carentes.
Vendia cada um de seus textos pela quantia de um real, isto mesmo um real, apesar de internamente já estar caindo na armadilha do pré julgamento  é difícil não ser solidário por um real, portanto comprei dois textos da referida poetisa, a quem quando perguntei o seu nome referiu-se a si própria, como  ¨A dona que ajudava os pobres¨, pois como me disse,  o seu nome não era importante, devo confessar que a afirmação me gerou um enorme desconforto e me pré dispôs contra ela,  pois como diz Emmanuel:  A humildade é uma virtude tão volátil, que quando pensamos tê-la, já a perdemos.
Deixando de lado meus julgamentos, oriundos da minha própria inferioridade espiritual, ela seguiu seu caminho e eu então me dispus a conceder a dádiva do meu tempo e da minha atenção para a leitura dos textos que havia dela comprado, contaminado pela empáfia que lamentavelmente algumas vezes ainda me atinge, julgando que iria encontrar baboseiras sem sentido.
Deus sempre escreve certo por linhas mais certas ainda, não eram poesias, na acepção do termo, mas eram textos curtos de uma beleza poética, de uma lógica irrefutável e de uma inteligência, que me atingiram fundo a sensibilidade, me trazendo lágrimas aos olhos, uma grande parte delas por extrema vergonha em relação aos julgamentos pré concebidos que tanto luto por não fazer, e que por avaliar apenas o exterior, havia acabado de mais uma vez a eles sucumbir, diga-se de passagem, que ela havia nos falado ser engenheira nuclear, e que havia abandonado tudo para ajudar aos pobres. Eu levei aquilo em conta da soberba.
Vou tentar mudar o assunto para mais à frente nele retornar juntando as pontas, tomara que possa fazer sentido.
Liberdade, eu quero te conhecer. Uma frase curta, afirmativa, escrita como epitáfio para o fim de um relacionamento. Esta pequena frase me deu muito no que pensar.
O que é ser livre?  Muita gente com melhores qualificações intelectuais do que eu, já se debruçou sobre esta questão.
O conceito de liberdade, assim como outros, tais como o de felicidade, é enormemente subjetivo. O que é ser livre para você? É não ter de prestar conta de seus atos? Não ter de dar satisfação a ninguém? Como se isto fosse possível. Não depender de ninguém? Outra impossibilidade. Poder entrar e sair a hora que bem te aprouver? Torno a questionar. O que é ser livre?
É claro que entendo a afirmação pelo o que ela tem de mais simples, poder experimentar coisas que nos foram vedadas é certamente uma forma de liberdade, principalmente para quem foi tolhido, mas estes conceitos são ilusórios.
Quem pensa que liberdade é fazer o que quer, como se isto fosse viável, confunde liberdade com egocentrismo, já me senti diversas vezes prisioneiro de mim mesmo e dos meus próprios sentimentos, como já me senti plenamente liberto ao lado de outra pessoa.
Liberdade, assim como esta tão propalada felicidade, são estados da alma, conceitos concretos que vivenciamos de forma abstrata, estão diretamente relacionados à escala de valores individuais, tem o tamanho do universo íntimo que cada um trás em si mesmo.
O que eu não conheço, para mim não existe, portanto o mundo tem para cada um a dimensão do seu conhecimento. Neste contexto sempre falei que temos de estar com nossas mentes abertas para viver o novo, tento viver a minha vida com isenção de intenções, como confessei linhas acima, às vezes falho vergonhosamente no intento, mas sei que isto também faz parte do meu processo de crescimento, enquanto espírito em processo contínuo de aprendizagem.
Assim como aprendemos a andar em passos vacilantes, aquele bamboleio que tanto nos fascina nas crianças e que mata os pais de preocupação pela contingência dos tombos, vamos aprendendo a caminhar através dos tropeços da jornada, caímos esfolando o corpo físico, erramos dilacerando os tecidos finos da alma.
Pronto aqui faço a junção das idéias que tanto tem me perturbado durante estes dias, um dos textos da minha amiga dos pobres, leiam isto sem ironia, é assim que ela quer ser chamada, e tem todo o direito de ser, por mais inadequado que eu possa querer julgar a denominação, ela ganhou o meu respeito pela profundidade dos conceitos, que com enorme simplicidade expôs.
Retornando, um de seus textos falava sobre feridas, um tema muito querido aos meus textos, sempre falo sobre cicatrizes, mas ainda não havia entendido a sua utilidade plenamente.
Sinceramente não pensei premeditadamente em fazer o que vou fazer agora, mas como um tributo de reconhecimento, e mais do que tudo, como um pedido sincero de desculpas pela avaliação preconceituosa que dela fiz,  vou aqui reproduzir literalmente um de seus textos, do outro farei citações, sempre com os devidos créditos. Prestem atenção.

                                                                 FERIDAS

¨ O amor e a sabedoria universal fazem par constante. Quando o primeiro é surpreendido com um fracasso, o outro estende seus braços para sustentar o desconhecido, a queda.
Por mais que possamos sentir o punhal cravado em nosso peito, também devemos saber que o sangue que escorre pela nossa alma, será o biombo do recomeço. Observemos uma ferida.
A casquinha externa é feia, reproduz o horror da lembrança da dor, no entanto, abaixo daquela casca, às vezes horrenda, a natureza tece magicamente o milagre da reconstrução.
São fios valiosos entregues a mãos preciosas. Talvez o horror daquela casca durante este trabalho, seja um sinal de aviso para nos afastarmos cada vez mais, deste tipo de armadilha.
 É como se houvesse um letreiro avisando do perigo. Um dia a obra estará acabada, e a casca feia cairá por si só, mostrando a você a nova obra pronta.
Se por acaso restar uma cicatriz, não se aflija. Deus decidiu colocar-lhe sempre em estado de vigília. Para que isto não lhe aconteça nunca mais. ¨

                                                      A amiga dos pobres

Sinceramente não sei se fico mais emocionado ou envergonhado, mas espero ter me redimido da minha falta de caridade para com ela, tomara que isto tenha se tornado uma cicatriz, eu agora entendo a  finalidade delas.
Olhamos nossas cicatrizes normalmente com horror, tenho algumas até interessantes, que já deram motivo para muita história e conseqüentemente para muita mentira também,  no meu  queixo a lembrança de um tombo de moto, na clavícula outra resultante de uma queda por um golpe de judô, na cabeça outra oriunda de uma pedrada, e diversas minúsculas que o tempo apagou da memória a origem, portanto insignificantes.
As cicatrizes corpóreas já nos acarretam pesadelos,  em virtude da lembrança dos traumas nos quais elas se originaram, agora o que dizer das que permanecem ocultas a visão alheia,  mas que são claras aos nossos olhos espirituais e insistem com enorme freqüência em se fazerem visíveis, vou mais além, insistem com enorme freqüência em reabrirem-se, voltando a causar dores indescritíveis pela revisitação dos fatos dos quais elas são as sequelas.
Sei que depois disto, o que eu normalmente repudiava e escondia de mim mesmo, tornou-se mais fácil de entender e de aceitar, não chego ao ponto de me orgulhar delas, mas também não as repudio mais, agora são para mim os avisos de Deus, nos quais passarei a dar mais atenção.
Mas nem só de cicatrizes vive este texto, também existem as flores.
Existem flores que  não  são para serem colhidas, mas diante da sua suavidade e de sua beleza o instinto de posse, ou melhor dizendo, nosso ego prevalece. Eu quero, eu consigo.
Segundo a minha amiga: ¨Muitas vezes é melhor vê-la sempre sorrindo lá no jardim, do que arrancá-la pelo simples fato de querê-la só para si.  ( Que beleza de conceito )
Ainda segundo suas sábias palavras:  ¨ O encontro do nosso eu, com a nossa essência mais pura, é como um fenômeno da natureza que se dá poucas vezes dentro da nossa existência, é preciso que nossa sintonia seja marcada pelo UNÍSSONO ( grifo meu ) dos nossos corações, porque senão, não há razão para ir ao jardim colher a rosa. ¨
É, acho que agora o meu intento foi logrado, no meio deste samba do sambista doido as coisas, ao menos para mim parecem ter se encaixado.
Algumas das minhas mais recentes e doloridas cicatrizes foram causadas por colher flores que eu deveria apenas ter deixado vicejando no jardim, contudo como realmente saber se aquela não é a flor a ser colhida? Como diz a propaganda do Canal Futura, não são as respostas que movem o mundo, e sim as perguntas.
Aprender a contemplar à distância as flores nunca foi um traço de caráter que eu pudesse orgulhar de possuir, me consolo dizendo que são poucos que possuem a sabedoria da contemplação em detrimento da colheita gananciosa, orientada apenas pelo falso sentido da posse.
Acaba que no final a flor se despetala e sobra,  apenas a haste com os espinhos para serem mostrados, depois ainda reclamamos das mãos feridas.
Vá conhecer a sua liberdade, vá sim, sem medo ou angústias, antes que a flor feneça, mas fica um aviso, a ilusão da liberdade é um dos tóxicos mais poderosos que eu próprio conheço, causador de traumas e de cicatrizes de difícil reparação, pela falta de compreensão do que seja LIBERDADE.
Pela ausência deste entendimento, nos tornamos intolerantes para com a liberdade dos outros, nos isolamos através da construção de muros de proteção que longe de cumprir esta função, acabam por nos segregar entrando em confronto direto com aquele outro conceito, o da tal felicidade, mas aí  eu vou precisar de procurar auxilio com a minha amiga dos pobres, com quem hoje compartilho a autoria intelectual do texto, se é que ele tem alguma intelectualidade, mas aí já é falsa modéstia, o que também é outro nome para o orgulho, danado de aprendizado difícil!
Fiquem com Deus, que o Divino Semeador, possa orientar nossa colheita e sempre nos lembrar que o limite da nossa liberdade,  sempre termina onde começa a do próximo, mas vai reconhecer estes limites.
Um grande abraço à todos

Ricardo M


Tenho uma poesia antiga que relutei antes em publicar, pois as vezes o contexto é impróprio, ou pode ser mal compreendido, mas francamente, entendam da forma que quiserem, pois é assim que sempre o fazem. Ela foi inspirada em uma música do Willie Nelson, um cantor country americano, que tem por título: To all the girls I ve loved before. Á Todas garotas que amei.


                                                              ESTRADA

Aprendi a não chorar por alguém que não me quer.
Deixo ao destino a escolha do caminho que vier.
Vou levando a minha vida sem qualquer preocupação.
Descobri que a viagem é bela, mas de curta duração.
Vou seguindo a caminhada sem saber onde vai dar.
Mas isto também não me importa, vou por estas vias tortas, sem ter hora pra chegar.
Conto os passos ao caminhar, sem ter rumo ou direção.
Chego a perder a noção do quanto que eu já andei,
Por tantas coisas passei, que chego até duvidar.
Senti o amargor e o desgosto do pranto a molhar meu rosto.
De viver em abandono, feito cachorro sem dono.
Sem eira nem beira ou lugar, que eu pudesse descansar.
O meu corpo dolorido e a alma em exaustão.
Mas foi curta a solidão, pois sempre tive coração que quisesse me abrigar.
Durante esta caminhada, foram muitos os amores.
Se tive alguns dissabores, a ninguém posso culpar.
Seguiram outros rumos na estrada, de alguns não ficou quase nada.
De outros... Me recuso a lembrar.
Mas de todos restou um traço, que nem o tempo e o espaço, vai conseguir apagar.
Que possam ser muito felizes, somos todos aprendizes.
Com muita estrada à rodar.
A todas o meu afeto, cada um com seu trajeto, o destino é um só lugar.
E como é uma só a estrada, às vezes em meio a jornada, a gente volta a se esbarrar.
Fiquem todas vocês com Deus, deixo aqui o meu adeus ou quem sabe um até lá.

Ricardo M


Que Deus te oriente em sua busca. Felicidades. .






Um comentário:

  1. Você toca num ponto interessante: liberdade. Quem a tem? É filosófico!... O caso da mulher que vende "versos", hoje tão comum; sempre nos encontramos (aqui mesmo em BM), com alquém vendendo "suas xerox" de poesias.Sempre caímos em julgamento. Mas, nesse infinito de palavras e autores, desde a Grecia antiga, poesias e textos são como as estrelas no céu. Vai que alguém achou um texto "oitocentistas", ou dos livros queimados ou papiros e seja "poeta bastante" para copiá-lo? Não tem jeito, viu; temos sempre a predisposição de substimar o outro; de julgar. Belo Texto!Grande abraço!

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