segunda-feira, 8 de outubro de 2012

DA DISSOLUÇÂO DAS MÁGOAS


Como já falei aqui anteriormente, aliás, por inúmeras vezes, minha vida nos últimos anos, para ser bem preciso, nos últimos três anos oito meses e doze dias, tornou-se uma completa incógnita para mim mesmo. Tenho experimentado uma gama de situações que jamais julgaria possíveis, anteriormente, fui expulso da minha zona de conforto e passei a enfrentar uma realidade totalmente diversa da minha usual. Por minha total responsabilidade, é bom que seja dito.
E neste estranho enredo em que me vejo sendo o protagonista, o redator não me dá a mínima dica das próximas falas ou do papel que tenho de desempenhar, não tenho nenhum Ponto, sendo que ponto é aquele auxiliar que no teatro dá a dica quando o interprete esquece o texto, mas é assim com todo mundo, devo ressaltar, como diz esta fantástica escola filosófica, chamada Face Book:¨ A vida é uma peça que não permite ensaios ¨. Vai vendo aí, no que pese não haver contraditório, gostei desta expressão que aprendi com nossos Magistrados da Suprema Corte.
Depois de haver tomado algumas cervejas além do usual durante o almoço de domingo com meu filho, estou envolvido por esta névoa que embaralha o raciocínio lógico, mas resolvi assim mesmo, extravasar o que me vai pelo sentimento.
Neste último sábado, dia 06 de outubro de 2012,  por um destes acasos, e eu não acredito de forma alguma em acasos, tive uma oportunidade única de me livrar de uma parte das sombras que durante algum tempo se faziam minhas companheiras.
Muito raramente estamos dispostos a OUVIR as pessoas, não disse escutar, mas sim OUVIR,  ouvir realmente o que o outro tem a nos dizer, 
Em nossa extremada soberba, nos julgamos os senhores da verdade, portando, nada há que o outro possa dizer que tenha maior significado para o nosso próprio aprendizado, e assim agindo, vamos semeando sombras ao nosso redor, sombras que um dia acabam por obstruir qualquer luminosidade possível em nosso espírito.
Uma das maiores dores, ou melhor dizendo, um dos maiores sofrimentos pelos quais passei, foi não ser ouvido realmente quando o que eu falava não saia apenas da minha boca, mas sim da minha alma, contudo entendo perfeitamente que se tenho direito de falar, o outro tem também o direito de não querer ouvir, mas em um primeiro momento, foi uma experiência de tal forma traumática, que não está em meus planos reeditar, como se a vontade tivesse força suficiente para impedir a repetição.
Não posso afirmar se fui realmente de fato ouvido, espero que sim, porém apenas pelo fato de ter podido expressar o que estava represado na alma, me proporcionou uma libertação de sentimentos menores que se faziam meus companheiros de jornada, me envenenando pela sua simbiose.
Raiva é uma emoção perfeitamente natural, todos nós  somos dela reféns em determinados momentos de nossa trajetória, mas os SENTIMENTOS de rancor e mágoa, muitas vezes nos direcionam ao ódio, veneno insidioso que contamina toda nossa circulação espiritual e nos prende a terra,  impedindo-nos de alçar vôos mais plenos.
Honestamente, nunca odiei ninguém, Deus me livre deste sentimento vil e depressivo, mas andava carregando algumas pequenas mágoas pelo meu trajeto, e mesmo sabedor das conseqüências de abrigar esta casta de sentimentos, mesmo que em doses menores, não conseguia deles me liberar, justificava-me intimamente, como sempre fazemos, julgando-me credor, esquecendo-me convenientemente dos inúmeros débitos d alma, contraídos junto a terceiros.
Sempre que leio a passagem evangélica referente a mulher adúltera, onde Jesus foi posto à prova quanto a validade da lei judaica que preconizava o apedrejamento da mulher que fosse apanhada em adultério, vejo-me sempre na condição daqueles que após serem confrontados com o singelo ensinamento, foram saindo de fininho, despistando, fingindo que nem estavam ali, jogando suas pedras para bem longe e achando um absurdo que alguém pudesse querer jogar um pedregulho que fosse na azarada criatura apanhada em flagrante delito.
Pois é, aquele que se ache isento de erro que atire a primeira pedra. No entanto enchemos freqüentemente nossas almas com paus e pedras, cheios de uma razão que não possuímos, amparados no que sempre denominei, certeza da ignorância. 
Já repararam como certos indivíduos são capazes de afirmar com a mais absoluta certeza que dois mais dois perfazem cinco? 
E ai de quem os ousar contrariar, será chamado de teimoso, isto para me restringir ao mínimo do que é de fato falado.
Conheço, como tenho certeza que todos também conhecem,  os dois lados desta moeda, já teimei que era certo, estando completamente equivocado, assim como fui contestado arduamente quando a verdade estava ao meu lado. Tudo isto é parte do processo de aprendizado.
As matérias primas de nosso processo evolutivo são a VIVÊNCIA e a EXPERIÊNCIA, operadas pelo APRENDIZADO e a PRÁTICA, não há outra forma de evolução, li muito recentemente a formulação de um pensamento sobre este assunto:  O que o homem não conhece, para ele não existe, o mundo tem a abrangência do seu conhecimento. Infelizmente não recordo o nome do inspirado autor do enunciado, mas nada existe de  mais cristalino do que o que foi tão bem sintetizado. Só reconhecemos e damos conta do que nos é conhecido, não poderia ser diferente, e assim também se faz em tudo mais que nos cerca, em relação aos nossos sentimentos então é infalível.
Só reconhecemos a mentira porque também a experimentamos em determinado momento, acusamos o semelhante de toda forma de defeitos, sem perceber que os julgamos tomando por base e medida a nossa própria falibilidade e inferioridade.
Não possuo autonomia para aconselhar quem quer que seja, contudo deixo aqui não um conselho, mas sim um pedido. Tenham a inteligência e a virtude da caridade em ouvir o que o outro tem a dizer com isenção de sentimentos. Temos o inalienável direito de discordar de tudo o que nos for dito, mas quando abrimos o nosso ouvido espiritual de forma isenta, muitas vezes nos surpreendemos em erros de avaliação. Querem o mais simples dos exemplos? Quem de nós já não antipatizou gratuitamente com alguém e a vida encarregou-se de transformar esta antipatia gratuita em amizade, afeto e muitas vezes convertê-la em amor.
Este texto hoje serve como uma forma de agradecimento por ter sido ouvido, ou ao menos,  me ter sido permitido falar, mas muito mais do que isto, agradeço a oportunidade de esvaziar esta mágoa corrosiva que vocês podem lamentavelmente identificar em textos anteriores que fiquei tentado a deletar deste blog, mas que percebi ser didaticamente útil deixar aqui registrado para que eu próprio pudesse entender os mecanismos que me levaram a escrevê-los.
Agradeço pela emoção do abraço que percebi sincero e tão ansiado, de ter sido tratado com respeito, tratado com o antigo carinho e afeto que tanto bem me fez, os quais, apesar da confessada mágoa, nunca foram esquecidos ou desvalorizados, muito ao contrário, estas lembranças foram o  impeditivo para que esta mágoa insipiente transformasse-se em um sentimento mais viral, mais destrutivo, principalmente para mim mesmo, como sempre acontece com quem os abriga, pois a mágoa é o veneno que tomamos tentando matar o outro, portanto nada mais improdutivo.
Sendo esta uma questão de caráter íntimo, que aqui hoje exponho com a manifesta intenção de semear concórdia e valores de fraternidade em um mundo tão carreado de rancores, não me seria lícito nomear quem quer que seja, mas o importante é que se este texto chegar ao  conhecimento das pessoas a quem este texto é dedicado, elas certamente nele se reconhecerão
Muito obrigado a vocês, senão por me ouvir, por me escutar, ou minimamente me terem permitido falar, tomara que a verdade do que falei possa ter sido compreendida, e ter finalmente a acolhida tão necessária para a minha paz interior. 
Não pleiteio nem anseio por qualquer outro tipo de mudança, a vida seguiu sua marcha sempre à frente e me descortinou novas possibilidades, novos papéis, me apresentou novos companheiros de cena, novos atores e me proporcionou uma nova vivência,  espero sinceramente que eu possa aprender um pouco mais, para que assim eu não tenha que improvisar minhas falas neste grande papel que foi a mim reservado neste espetáculo que é o ato de viver.
Finalizo com um pensamento de Irmã Dulce.
¨ Quem tem tempo para julgar o próximo, não tem tempo para amá-lo ¨
Possa Deus, o nosso  Grande Diretor Celestial, me servir de ponto, de orientação quando eu esquecer minha fala, ou não entender a atuação que se espera da minha personagem.
Um grande abraço.

RICARDO M.

Aproveito para anexar uma antiga poesia que estava engavetada, hoje ela carece de sentido, mas ainda posui seu valor.


TRIBUTO  A SOLIDÃO


Solidão, anseio pela sua companhia
Um milhão de vezes as noites mais sombrias
Do que esta inquietude a corroer a alma
Seca do meu rosto o insano pranto
Cale de uma vez por todas o som desta voz, que como encanto
Vem durante a noite, em acalanto, me roubar a calma
Apaga dos meus olhos a lembrança deste olhar
Que na penumbra do meu quarto, passo sempre a vislumbrar
No exato instante em que me deito
Vem logo,e expulse-a para fora do meu leito
Quem sabe assim se desta forma, deste jeito
Ela nunca mais volte a importunar
Solidão, és minha derradeira esperança
De apagar de uma vez por todas esta lembrança
Para que eu então possa  a minha paz recuperar
Esvazia do meu peito o sentimento
Apague esta imagem, que me invade o pensamento
Vem ficar comigo me impedindo de sonhar
Solidão, hoje eu sei, foste minha mais leal amiga
Volta agora, ignore a nossa briga
Tente entender, foi só da boca pra fora, falei tudo por falar
Pedi que você partisse sem demora
Pus você pela minha porta afora, e gritei pra não voltar
Hoje  sou eu, que como um louco te implora
Vem, vem correndo, vem bem rápido, vem agora
Mande a sombra dela embora, e ocupe o seu lugar
Solidão querida amiga, és  bem vinda novamente em minha vida
Não se faça de desentendida, não fique assim tão inibida,  pode se aproximar
Vem não me maltrate, não me negue a acolhida,  não me deixe a te esperar
Vem, vem sim, vem ficar aqui bem ao meu lado
Faz de conta que eu sou seu namorado para assim ficarmos juntos
O que não nos falta é assunto.
Temos muito que falar.


RICARDO M.

Um comentário: